Por conta da intolerância religiosa a humanidade assistiu a sangrentos combates que invariavelmente ceifaram a vida de milhões de inocentes. Exemplos não faltam na história do mundo. Atualmente os talibãs, israelenses, palestinos, os xiitas, curdos, os cristãos ortodoxos da Sérvia, os sicks da Índia, entre vários povos; mantém viva a chama da discórdia em nome de Deus. Manchetes de massacres em nome da fé ocupam quase que diariamente o noticioso internacional.
vista do monumento à divindade Oxum
Sobre tolerância religiosa, nós da grande e pacífica nação brasileira, temos muito que ensinar ao mundo. Pois, não só oferecemos nossas terras aos milhares de imigrantes famintos,que aqui chegaram com suas famílias, como também ao longo do tempo, soubemos respeitar e valorizar seus costumes e crenças.
Neste sentido, o artigo 5º, no seu inciso VI, de nossa lei fundamental, a Constituição Federal, consagrou esta prática de nossa sociedade, a da tolerância religiosa, estabelecendo o seguinte:
“é inviolável a liberdade consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”
Justino Chaplin e Swami Benevenutto celebram a diversidade religiosa
em frente ao belíssimo monumento à Divindade africana Oxum - Ipanema - Porto Alegre
Fazemos estas considerações iniciais para procurar trazer ao tema
“MACUMBÓDROMO” a seriedade, profundidade e o respeito que o assunto merece. O respeito à religião é uma realidade na esmagadora maioria de lares brasileiros. Sob este aspecto o Brasil é uma sociedade na qual a democracia religiosa efetivamente faz parte do seu cotidiano.
No entanto, numa sociedade de participação coletiva como a nossa, a liberdade não é valor absoluto. Deve respeitar limites para a manutenção da harmonia entre os integrantes que a formam. Diz o dito popular: “Nossa liberdade termina onde começa a do outro.”
Oferendas aos deuses são feitas desde a antiguidade. Romanos faziam adivinhações observando vísceras de animais. Sacrifício de animais, oferta de alimentos e objetos simbólicos às divindades fazem parte da historia de nossos povos ancestrais.
Ainda hoje, judeus imolam carneiros. As religiões afro-brasileiras em seus rituais sacrificam animais e os entregam aos deuses junto com alimentos e objetos nas nossas ruas, praças, parques; orlas de rios, lagos e no oceano.
Não nos cabe perquirir a validade e os sentimentos que levam a essas práticas ritualísticas. Muito menos lançar críticas, argumentações pejorativas ou malidicentes. Pois, como já dissemos perante a lei e no íntimo do povo brasileiro impera a liberdade de religião e culto.
Evidentemente à liberdade de culto deve ser atribuída a responsabilidade de não interferir na vida daqueles que não compartilham das mesmas crenças. Por isso não somos contra às oferendas. Apenas, achamos que estas devam ser feitas em local especial preparado para este fim: um macumbódromo.
Informamos que o termo “macumbódromo” não é nossa criação, foi cunhado pelo político Alceu de Deus Collares, ex-prefeito de Porto Alegre.
Os motivos que nos fazem sugerir esta pauta para discussão da sociedade são o elevado número de oferendas que os integrantes das religiões afro-brasileiras espalham pela nossa cidade. Em certas épocas do ano, milhares de carcaças de animais e alimentos jogados ao chão são avistados por toda a população, como já dissemos em ruas parques, praças e orla do rio Guaíba.
Em pleno céu aberto este tipo de oferenda entra rapidamente em estado de putrefação, dando origem a vermes. São larvas de moscas, que após a metamorfose invadem as casas da população independentemente da sua opção espiritual, trazendo-lhes riscos à saúde. Insetos desta natureza são vetores para a contaminação de alimentos e o desenvolvimento de uma infinidade moléstias graves. Também, esta prática contamina o rio com proliferação de milhares de colônias de bactérias. Prejudicando nosso abastecimento de água e aumentando os custos para tratamento de descontaminação.
O odor da putrefação é desagradável e prejudicial ao ser humano, inclusive contamina o ar. Pelo ar pode ser transmitido um número considerável de doenças que vão das diarréias às perturbações e infecções respiratórias em indivíduos alérgicos ou não.
Lembramos ainda, que as velas acesas junto às árvores constituem um verdadeiro crime ecológico. Muitas vezes, por conta da devoção, frondosas árvores são incendiadas e anos de trabalho da natureza se transformam em carvão e cinzas. Isto tem que acabar!
Acreditamos que pertence às lideranças deste segmento religioso a missão de rever esta ritualística e adequá-la aos moldes dos dias de hoje. Sob pena de no futuro virem a sofrer o preconceito social pelos danos que causam ao meio ambiente e mais do que isso sofrer a intervenção dos órgãos governamentais por conta da saúde pública, que é um bem tão importante quanto os bens ligados à espiritualidade.
Em nosso vídeo “Saravá Macumba Branca”, procuramos de forma bem humorada trazer à discussão este tema polêmico; não é um deboche. Pois, ainda que tenha tido uma educação católica apostólica romana, eu Famosos Quem (?), sempre tive entes queridos muito próximos ligados às religiões afro-brasileiras, coisa da qual muito me orgulho. Na minha casa sempre houve respeito e compreensão entre as diferentes formas de se falar com Deus. Jamais brincaria com assunto desta magnetude.
Por último, gostaríamos de dizer que a tolerância religiosa é um dos traços marcantes que compõem a nossa brasilidade e que confiamos ao “Justino Chaplin” a importante tarefa de apresentar ao público através de uma performance nosso ponto de vista. Acho que ele deu conta do recado. Agradecemos a participação do swami Benevenutto que trouxe ao trabalho o colorido e a poesia da cultura tibetana.
Swami Benevenutto no dia do Rio Guaíba protestou
pela falta de banheiros e sanitários na orla de Ipanema