sexta-feira, 6 de novembro de 2009

“JUSTINO CHAPLIN” NA CELEBRAÇÃO DE ABERTURA DA 55ª FEIRA DO LIVRO DE PORTO ALEGRE



A Feira do Livro de nossa cidade não só vende poesias, como também oferece momentos poesia. Carbon kid e Eu intuímos que ocorreria um destes durante a abertura da 55ª edição. Por conta disso, resolvemos participar do evento oferecendo um pouco de poesia e ativismo ecológico. Com este propósito convocamos nosso novo personagem “Justino Chaplin” para comparecer ao evento.

Depois da “Morte de Plástico”, ficamos com medo de ficar marcados com estigma de um único personagem na praça. Ela tinha criado uma empatia forte com a cidade e prestado grandes serviços combatendo a construção de habitações nas margens do Rio Guaíba no episódio do Pontal do Estaleiro.


Para fugir do estigma deveríamos necessariamente criar um novo personagem que falasse da vida. Porém, como a “Morte de Plástico”, o novo personagem teria que ser impactante, ter humor, poesia e grande poder de comunicação.

Foi então, que olhando um cartaz de Charles Chaplin, percebi certa semelhança com Carbon kid. Era um cartaz num banheiro de bar. Pensei, é um feito da cerveja... Mas, não era. Quando voltei pra casa, vendo um pôster do Chaplin, concluí que Kid se transformaria em Chaplin e seria o nosso novo personagem.

Fiquei “loco de contente”, quase não dei chance pro kid contestar a idéia. Na medida em que falávamos sobre a vida e a obra de Charles Chaplin, mais a idéia nos emocionava. Tratei de conseguir vídeos do Chaplin pro Kid fazer laboratório e ele aos poucos foi incorporando o personagem.



Por não se tratar de um cover do Chaplin e para conceder licença poética ao Kid, demos ao personagem o nome de: “Justino Chaplin”. Um juiz disposto a disparar cartões vermelhos contra as imoralidades e defender a natureza com a mesma disposição e bom humor que tinha o “Carlitos”, o personagem criado pelo genial artista Charles Chaplin.

(Um personagem “de responsa” e absolutamente adorável caiu mais uma vez em nossas mãos. Pretendemos manusear as cordas que lhe dão sustentação no palco com o mesmo empenho e a dedicação de seu criador original)


A escolha não poderia ser melhor. Chaplin, além de cineasta foi um grande pensador e crítico social. Denunciou em sua obra grandes problemas da sociedade moderna, tais como: a miséria, o desemprego, a ameaça dos governos fascistas, em especial o “nazismo” (seus filmes foram proibidos na Alemanha em 1930) e as mazelas do sistema capitalista (Saiu dos EUA em 1952 por conta da acusação de que era um “perigoso comunista”).

Seu personagem mais famoso foi o vagabundo Carlitos, oprimido e engraçado, este personagem denunciava as injustiças sociais. De forma inteligente e engraçada, este grande artista sabia como fazer rir e também chorar.

MAS, ONDE ENTRA JUSTINO CHAPLIN E A FEIRA DO LIVRO NESSA HISTÓRIA?

O Justino Chaplin apareceu por primeiro no show de julgamento público da governadora Yeda e depois num protesto contra o espigão da Lima e Silva. Foram duas aparições nas quais Kid afinou o personagem, comprovou o carisma da figura e complementou o processo de criação do personagem.

Optamos em fazer a estréia oficial (para nós mesmos) do Justino na abertura da 55ª Feira do Livro por que era o lugar mais nobre que encontramos. E por que queríamos homenagear o patrono da feira Carlos Urbim com a presença lúdica do nosso “Justino Chaplin”. Pretendíamos agradecer o apoio prestado por ele à campanha vitoriosa do “Não ao Pontal. Além disso, daríamos inicio a nossa nova campanha a respeito do desenvolvimento conceito “Rio Guaíba”.

A CERIMÔNIA E OU CELEBRAÇÃO DE ABERTURA DA 55ª FEIRA DO LIVRO

Para vestir o figurino do personagem, Carbon kid utilizou como camarim um banheiro da Casa de Cultura Mário Quintana. A transformação foi bárbara. Ao longo do caminho até o Cais do Porto, local onde se realizaria a cerimônia, Justino Chaplin se misturou às pessoas sendo recebido com amabilidade e sorrisos. O clima quente não foi obstáculo para o entusiasmo dele.


Quando começou a cerimônia pensamos que ia ser aquele negócio chato de discurso para cá, discursos pra lá... E de fato aconteceram os tais discursos... O dos políticos seguiu a métrica conhecida. Sempre almejando os louros aos quais não fazem jus. Esta monotonia era quebrada pela tradutora para linguagem brasileira de sinais, uma menina negra, que com cabelos com rabo-de-cavalo e luvas brancas, parecia estar fazendo homenagem ao Michael Jackson. (Lá no fundão de vez em quando cantávamos Thriller... thriller – não dava pra resistir).


Justino Chaplin dançou o hino nacional. E com seu cartaz em forma de peixe, aguardava o passeio inaugural para homenagear Carlos Urbim, entregando-lhe, humildemente, uma cópia de nossa lenda do Rio Guaíba.


Foi então, que foi dada a palavra aos “Mestres”. Charles Kiefer fez um relato do glorioso período em que esteve à frente da feira como Patrono. Inovou ao sugerir a eleição direta para a escolha do patrono. Coisa muito justa.



O Carlos Urbim subiu ao palco e nos energizou com uma alegria tão contagiante que por alguns instantes o calor desapareceu. O auditório ficou inebriado com as palavras do escritor. Ele falou de sua paixão pelo ofício de escrever para o público infantil, da sua importante missão de trazer ao mundo novos leitores . Também, da relevância do livro na formação do cidadão, da necessidade de incentivo constante à leitura e da democratização da cultura para o real desenvolvimento da sociedade.


Fez um desfile de seus livros e personagens principais. Era como se naquele momento todos os personagens estivessem ali presentes corporificados na pessoa de seu criador.

E mais... A escolha do seu nome como patrono da feira tinha para ele o significado de reconhecimento de sua obra e de seus esforços em favor da literatura. Generoso, encheu o Teatro Sancho Pança com sua felicidade e a compartilhou com os presentes. Vimos o público nitidamente emocionado com aquelas palavras. Professores foram literalmente às lágrimas.


Não podemos esquecer de uma personagem de um seus livros, “Uma Graça de Traça”, que adentrou no palco acrescentando um colorido ainda mais lúdico e surreal à cena.



Não bastasse isso, após os discursos finais, o Padrinho da 55ª Feira do Livro, saiu em direção da Feira para realizar seu primeiro passeio com o tal. Interceptado pelo a banda de um homem só, Urbim, mostrou disposição a saiu dançando que nem guri ("O Guri Daltônico"), sendo acompanhado pelos presentes, que ainda emocionados com as palavras do patrono, entregaram-se à dança celebrando aquele inesquecível momento mágico.


(No meio do cortejo Justino Chaplin recebeu parabéns do escritor Charles Kiefer. Como “Charles” em português significa “Carlos”. Fiquei pensando... Chaplin, Gerbase, Kiefer e Urbin todos eles são “Carlos” e “Geniais” por que são pessoas ousadamente simples)



Justino Chaplin seguiu este cortejo. E ao final entregou para Urbim uma cópia de nossa Lenda do Rio Guaíba. Registramos este glorioso acontecimento e voltamos para casa “pra lá de contentes”, com a certeza de que havíamos participado de um grande e mágico “momento poesia”.




Veja no youtube a estréia de Justino Chaplin na Abertura da 55ª Feira do Livro de Porto alegre acessando este link:


A Lenda do Rio Guaíba

Num passado muito distante quando não havia cidades grandes, automóveis, televisão e nem internet, uma grande seca castigou a terra dos índios Arachanes. Os rios secaram e os peixes morreram. A caça não era mais encontrada com tanta facilidade. Os Arachanes entraram em pânico com aquela situação calamitosa.

Por isso, guerreiros se reuniram e foram falar com o pajé e conselheiro Amberê. O pajé lhes disse que deveriam realizar um ritual tribal para pedir a ajuda de Cesy, a mãe natureza. Na primeira lua cheia acenderiam o fogo sagrado e em volta dele dançariam e cantariam em louvor à mãe até entrar em sintonia com a bondosa Senhora. Mas alertou:

- A mãe só nos dirá o que fazer se todos demonstrarmos que realmente nos preocupamos uns com os outros!
E, assim foi feito... O pajé conhecedor dos rituais mágicos preparou a fogueira sagrada.A celebração começou. Desta vez homens, mulheres e crianças dançaram e cantaram juntos em volta da fogueira.

Dançaram sem parar durante horas, quando de repente... As chamas da fogueira aumentaram... E uma voz doce e serena chegou aos ouvidos de toda tribo.

- Meus amados filhos da tribo dos Arachanes, o que está por vir é muito grave! O clima vai piorar ainda mais... Vocês provaram ser unidos e que tem amor uns pelos outros. Eu posso sentir isto nesta noite mágica. Por isso, num sonho mostrarei ao Pajé Amberê, onde podeis encontrar um lago. Em volta deste lago vocês poderão sobreviver durante estes dias difíceis. Mas, isto só será possível se seguirem as regras que ensinarei ao pajé...
Após ouvirem estas palavras as chamas voltaram ao normal e todos em silêncio foram para suas ocas. Com os primeiros raios de sol na manhã seguinte a tribo se reuniu em frente oca do pajé. Amberê foi até eles e disse::

Nossa mãe cumpriu com a palavra! Mostrou-me o caminho do lago. Também, ensinou as coisas que devemos fazer para que todos sobrevivam quando chegarmos lá. A água do lago pertence a todos, deve ser usada para matar a sede, cozinhar, tomar banho e também para o cultivo de alimentos para todos. Todos devem cuidar e morar longe das margens do lago, nunca jogar lixo ou restos de animais nas águas do lago. Na estação da caça, nunca abater fêmeas prenhas ou com filhotes, caçando apenas o suficiente para satisfazer a fome da tribo. Pescar somente nas estações mais frias, quando faltam alimentos para os homens e os animais. Se cortarem uma árvore para fazer uma oca; plantem outra. Ela estará pronta para construir um abrigo para seus filhos quando ele crescerem.

Depois de ouvirem o pajé Amberê, cada membro da tribo foi até sua oca pegar seus pertences para partir em busca do lago.

Foi uma jornada penosa. Às vezes faltavam forças para dar um único passo à frente. Então, Amberê relembrava as palavras da mãe natureza. Isto encorajava todos a seguir adiante. Passaram por regiões muito devastadas pela seca. Lugares onde antigamente corriam rios, agora davam lugar a uma terra seca e rachada.

Por todos os lados carcaças de animais mortos e aldeias abandonadas. Todos se perguntavam sobre onde teria ido parar toda aquela gente. Quando a desesperança se abateu sobre todos, alguns guerreiros começaram a duvidar das palavras da mãe natureza e questionar os conhecimentos do pajé. Foi então, que chegaram num vale gigantesco e no meio do vale avistaram o lago.

No vale, além do lago haviam pequenos arbustos desbotados e retorcidos espalhados por todas as direções. Seguindo as orientações do pajé, os Arachanes construíram suas ocas bem longe do lago.

A vida era difícil, mas a tribo não passava fome. Pequenos frutos colhidos nos arbustos eram repartidos entre todos. Sempre tinham cuidado de deixar alguns frutos nos arbustos para alimentar os animais que apareciam no vale. Os alimentos cultivados nas hortas eram consumidos nos dias em que não encontravam frutos ou animais para abater.

As chuvas voltaram aos poucos , fazendo o lago aumentar de tamanho. O verde se espalhou pelo vale e animais selvagens já podiam ser vistos com freqüência. Os ensinamentos da mãe natureza eram seguidos e respeitados por toda tribo.

A roda do tempo girou e os pequenos arbustos deram lugar a uma floresta de árvores altas. O lago alimentado pelas chuvas cresceu a ponto de ficar bem próximo da aldeia. Então, Amberê reuniu a tribo e disse:

– Irmãos da Tribo dos Arachanes! Nós teremos que levar nossas ocas para longe das margens do lago. Por que assim nos ensinou a mãe...

O guerreiro Cauré um filho rebelde protestou. Falou que não havia necessidade de mudar para longe por que o Lago era grande o suficiente para todos morarem em sua volta. Também, disse que os tempos eram de fartura e que Amberê estava muito velho para comandar a vida da tribo dos Arachanes. Pior, não acreditava mais em Cesy, mãe natureza.

Cauré não se mudou e sua atitude o foi copiada por toda tribo. Pajé Amberê ficou desolado com a tribo. Sabia que havia uma razão para que todos seguissem os ensinamentos da mãe natureza. Magoado, juntou as poucas coisas que possuía e foi morar numa serra próxima ao vale.

Sem a presença de Amberê para orientar a vida da tribo, os ensinamentos da mãe natureza foram logo esquecidos. As ocas se multiplicaram à beira do lago. As hortas comunitárias foram abandonadas e o mato tomou conta.

Nas caçadas, os guerreiros abatiam mais animais do que necessitavam para matar a fome da família. O resultado eram muitas sobras, ossos e carcaças que pela proximidade eram impiedosamente jogados no lago.

Para fazer ocas de maior conforto, a tribo derrubou as árvores crescidas nos últimos anos.

As ocas maiores ocuparam praticamente toda orla do Lago. Espantando os animais que se abrigavam nas árvores ou que iam até ao lago beber água.

A maioria destes animais terminou por abandonar o vale e foi procurar outro lugar, mais tranqüilo, para morar.

Além de restos de animais, os Arachanes adquiriram o péssimo habito de jogar no lago todo o tipo de objetos que não lhes tinha mais serventia. O lixo e os animais mortos jogados nas águas poluíram toda a orla, causando a morte de milhares de peixes. A água contaminada provocou doenças, feridas pelos corpos. As crianças foram as que mais sofriam. A peste e a fome mais uma vez ameaçou a tribo.
Sem alternativas só restava procurar o pajé e para pedir ajuda. Levaram vários dias até que encontraram o pajé. Ele estava morando em uma caverna no alto de uma montanha. Após ouvir as queixas da tribo, o pajé desabafou:

- Irmãos, nossa mãe nos guiou até este lago. Além disso, ela devolveu a esperança na vida quando restava apenas aguardar pela morte. Ouviu nosso pedido de socorro e ensinou como superar as dificuldades. Mas, vocês desprezaram estes ensinamentos. Vejam a tragédia que aconteceu: os peixes morreram, os animais sumiram e a floresta foi devastada.
Continuou...

- Aqui do alto acompanhei com muita tristeza o desatino de todos e a destruição do vale pelas próprias mãos dos Arachanes. Procurem os índios mais velhos da tribo. Eles dirão como foi que chegamos a este vale. Desta vez não poderei ajudá-los. Lembrem-se, para conseguir falar com nossa mãe terão que agir de forma corajosa, despretensiosa e persistente.

De volta à aldeia, os índios mais novos da tribo souberam do ritual que os antigos haviam feito para entrar em sintonia com a mãe, das regras ensinadas por ela e da difícil jornada até encontrar o Lago.

Diante do caos em que se encontravam trataram de preparar mais uma vez o antigo ritual tribal.

Na primeira noite dançaram e cantaram até não agüentar mais. Porém, nada aconteceu. Quando o sol preparava-se para nascer no horizonte, o guerreiro Urissanê, tomou coragem e em frente todos, assumiu sua culpa por ter se afastado dos ensinamentos da Mãe Natureza. Seu gesto foi repetido por todos os guerreiros mais velhos. A tribo se dispersou silenciosamente após todos prometerem que na noite seguinte tentariam novamente entrar em sintonia com Cesy.

Também, na segunda noite, a mãe natureza não se manifestou. Alguns já pensaram em se entregar à morte, quando o guerreiro Arani disse: - Irmãos, não percam as esperanças. Enquanto pudermos ficar em pé, teremos que continuar. Devemos isto aos nossos filhos. Eles não podem ser prejudicados pelas atitudes erradas que nós tomamos.

Na terceira noite ficou acertado que só participariam da dança os mais velhos. Os jovens guardariam suas energias para partir em busca de um novo local para morar.

A dança começou bem cedo. Por volta da meia noite os vigorosos passos foram trocados por um arrastar de pés. Mas, ninguém desistia. Quando alguém caía no chão, o guerreiro Cauré estendia sua mão, levantava o irmão e a dança mística continuava.

Um por um os guerreiros foram tombando. Até que sobrou em pé apenas Cauré. Ele continuou cantando e dançando sozinho até que as forças lhe faltaram. Então, caiu de joelhos e ao bater no chão exclamou:


- Sei que não somos merecedores, mas... Perdão, ó minha mãe!

Neste exato momento, fachos de luz saíram da fogueira e iluminaram a aldeia. As chamas aumentaram e a voz da Mãe Natureza foi ouvida por toda Tribo:

- Meus queridos, os erros de um filho sempre trazem dor ao coração de uma mãe. Mas, ela sempre está pronta para perdoar este filho quando sente que ele realmente está arrependido do mal que praticou.

Os guerreiros caídos aos poucos começaram a se levantar e os mais novos deixaram as ocas para se aproximar da fogueira. Mãe natureza continuou:

- Apesar do sofrimento que vocês estão enfrentando, para mim hoje é uma noite de alegria. Pois, não há felicidade maior para uma mãe do que ver que um filho que seguiu pela trilha do mal, reencontrou novamente o caminho do bem. Por isso seus esforços serão recompensados. Podeis ir tranqüilamente para as suas ocas... Amanhã vocês terão uma grande surpresa!

Todos seguiram as ordens da mãe e lentamente dirigiram-se para as ocas.

No outro dia ao sair das ocas a tribo quase não acreditou no que viu. O lago havia se transformado num imenso rio de águas correntes. Concluíram, que era um presente da mãe natureza para a tribo dos Arachanes e deram ao rio o nome de Guaíba.


Na beira do rio avistaram o Pajé, que estava a admirar aquele belo cenário. Cheios de alegria a tribo cercou o pajé. O Pajé Amberê aproveitou a oportunidade e falou:

- Meus Irmãos, eu espero que vocês nunca mais esqueçam o que acontrceu aqui. Lembrem-se, de sempre proteger a água do rio dos Arachanes. Pois água é o nosso maior tesouro. Sem água a floresta não cresce e os animais desaparecem. O guerreiro mais valente perde suas forças e vai ao chão como se fosse golpeado por um inimigo invisível. Preservar a água, é também preservar a vida.
O pajé falou que seu tempo na terra dos Arachanes estava por terminar. Iria embora com felicidade no seu coração, pois seu povo havia recuperado juízo. Alertou que todos viveriam felizes para o resto de suas vidas se continuassem seguindo os ensinamentos da Mãe Natureza.

Assim que parou de falar, o Pajé Amberê abriu caminho na multidão e partiu rumo às montanhas que cercavam o vale e nunca mais foi visto.

FIM



GLOSSÁRIO
Amberê: tupi-guarani, sf. relâmpago.
Arachanes: Pertencem a grande família dos índios Guaranis, apontados como os moradores mais antigos das margens do rio Guaíba. Foram dizimados com a chegada dos imigrantes açorianos em 1714, mais pelas doenças dos brancos (gripes etc..), do que por conflitos. Também conhecidos por índios “Arachas ou Arachanes que eram ótimos nadadores o nome “Aracha – Arachanes” significa PATOS por isso o nome Lagoa dos Patos (Lagoa dos Arachas).
Arani: tupi-guarani, sf. Tempo furioso.
Cauré: tupi-guarani, sf. Espécie de Gavião.
Cesy: tupi-guarani, sf. Mãe Superior.
Guaíba: tupi-guarani, sf. lugar onde o rio se alarga ( gua (grande) + y (água, rio) + ba (lugar) ).
Tupã: tupi-gurani, sf. Deus.
Urissanê: tupi-guarani, sf. Vagalume, pirilampo .

INDIOS ARACHANES

Os índios Arachanes pertencem à família dos Índios Guaranis. Habitavam de Norte a Sul e pelo centro do atual Rio Grande do Sul, entre a Serra Geral e a Lagoa dos Patos. Alguns estudiosos estimam que esta ocupação tenha se dado por volta de 6.500 anos A.C.. Os Arachanes praticavam a agricultura e eram conhecidos por ser uma tribo organizada e pacífica.

Foram eles que deram ao rio dos porto-alegrenses o nome de “Guaíba”, que significa na língua Guarani, lugar onde o rio se alarga (gua (grande) + y (água, rio) + ba (lugar) ).

Quando os primeiros exploradores espanhóis e portugueses, no século XVI, vieram a conhecer a terra dos Arachanes, a região onde atualmente se encontra a cidade de Porto Alegre, encontraram na localidade os índios Arachanes.

Através desta tribo os colonizadores ficaram sabendo que o rio largo que corria naquelas belas paragens se chamava Guaíba.

Mais de 300 anos se passaram e as coisas mudaram radicalmente no território dos Arachanes. Os arachanes desapareceram da face da terra, mas o nome do rio não.

Ultimamente, alguns intelectuais encasquetaram em chamar este rio de lago. Mas, o povo continua dizendo que as águas que banham a cidade de Porto Alegre são as águas do “Rio Guaíba”. Não há como duvidar deste fato. O povo tem sabedoria. Afinal, a voz do povo é a voz de Tupã.
O RIO GUAÍBA

Os canais dos Rios: Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí, convergem para o delta do rio Jacuí, e daí seguem pelo leito do Guaíba como um único canal até a Ponta de Itapuã. É um canal natural com 50 km de comprimento e 8 metros de profundidade, que resulta da captura fluvial e mantém uma largura e profundidade suficientes para permitir a navegabilidade ao longo de todo o seu perfil.

Este canal desaparece no leito da Lagoa dos Patos por soterramento. Aqui a deposição de sedimentos preencheu este canal e canais de outros rios e o cobriu com uma camada de lama de mais de 6 metros de espessura, durante os últimos milhares de anos.

No entanto, ao longo de todo este tempo, o Guaíba com o vigor dos seus escoamentos restringiu a deposição da lama, preservando a forma do canal principal, diferentemente do destino que tiveram os canais no interior da Lagoa dos Patos.

No Guaíba, num rio, ocorre o inverso do que normalmente se observa em um lago, lagoa ou laguna, locais onde a circulação restrita favorece a deposição. No Guaíba prevalecem os escoamentos, que acompanham os gradientes do terreno submerso, numa direção preferencial ao longo de ano todo, para sudeste.

Os fluxos são tão expressivos em volumes e velocidades que o tempo de residência das suas águas, entre a Usina do Gasômetro e a Ponta de Itapuã, é em média de 10 dias. Ou seja, as vazões da rede de drenagem que ingressa no Guaíba são suficientes para renovar as suas águas e transportar os sedimentos suspensos num curto intervalo de tempo, numa escala de fluxos correspondentes aos rios de montante, de modo bem diverso da Lagoa dos Patos onde este tempo é medido em meses.

O canal principal também exerce um controle na distribuição dos sedimentos finos depositados no fundo, preferencialmente ao longo do seu eixo. Lagos, lagoas e lagunas não possuem este modo de escoamento, nem um curto tempo de residência, nem canais controlando a sedimentação.

O Guaíba, além dos seus escoamentos e do canal, possui uma ampla superfície exposta à ação dos ventos que favorecem o desenvolvimento das ondas. Esta outra forçante hidrodinâmica possui direção de propagação e intensidade diretamente proporcional a força dos ventos e incidem sobre as margens com energia suficiente para construir extensas praias e pontais arenosos e, também movimentar constantemente as areias presentes no fundo raso do Guaíba.

Portanto, podemos com base em fundamentos, hidronamicos, sedimentológicos e geomorfológicos afirmar que parte da rede hidrográfica de sudeste do estado do Rio Grande do Sul alcança os seus limites mais distais no interior do Guaíba até a Ponta de Itapuã, local onde ocorre a transição do rio, Rio Guaíba, para outro ambiente, a Lagoa dos Patos.

Artigo do professor Elírio Ernestino Toldo Jr./ Professor CECO/IG/UFRGS- Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica/ toldo@ufrgs.br

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