segunda-feira, 29 de agosto de 2011

AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural


No início dos anos 1970 a ditadura militar estava a pleno vapor. Sob o pretexto da manutenção da ordem e do progresso o poder autoritário limitava os direitos políticos, amordaçava a opinião pública e reprimia a liberdade de expressão. Campanhas nacionalistas ufanistas varriam o território nacional exaltando uma política desenvolvimentista (milagre econômico).

O Brasil deixava de ser um país de economia preponderantemente ruralista para ingressar irreversivelmente numa economia  de cunho industrial. Para sustentar o acelerado crescimento havia um preço a pagar: a degradação do ambiente natural.

Neste sentido a política desenvolvimentista foi impiedosa como o meio ambiente. Em poucos anos os rios foram envenenados por agrotóxicos, resíduos domésticos e industriais. A poluição do ar se tornou constante nos grandes centros urbanos. O desatino era tanto, que a poluição era vista como um mal necessário, sem o qual não era possível o desenvolvimento.

Diante deste quadro caótico, os problemas ambientais ficaram cada vez mais visíveis, a ponto de um grupo de naturistas de Porto Alegre unir forças para sair em defesa da natureza ameaçada. Nascia assim, no dia 27 de abril de 1971, a AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. Entre os fundadores da entidade estavam Augusto Carneiro, Hilda Zimermann, Flávio Lewgoi e José Lutzenberger.
poavive.wordpress.com
Apesar das nobres intenções o grupo foi taxado pelos militares como subversivo. Uma denominação perigosa naqueles anos de chumbo. Mas, isso não esmoreceu os pioneiros da AGAPAN. Nos anos seguintes eles enfrentaram o poder constituído empreendendo importantes lutas na defesa do meio ambiente.

Devido ao combate ao corte de árvores nas zonas urbanas, políticas públicas ambientais foram adotadas e, Porto Alegre se tornou numa das capitais mais arborizadas no país. O parque/reserva de Itapuã não seria uma realidade sem os esforços do bravo José Lutzemberger, que lutou contra as pedreiras clandestinas, que transfiguravam aquele belíssimo cenário natural. Sem falar nas ações contra a devastação das florestas, queimadas, uso indiscriminado do solo, poluição do ar e cursos d’água.

Parque de Itapuã - portoimagem.com

Outra luta importante para a cidade, nos primeiros tempos, foi àquela desenvolvida contra a fábrica de celulose Borregard, que empesteava a cidade com um fétido odor, pois havia sido instalada sem filtros.

poavive.wordpress.com

Em 1973, um membro da entidade, o estudante Carlos Dayrell, conseguiria barrar o corte de árvores na Avenida João Pessoa, subindo num tipuana e impedindo o corte de uma série de árvores.
Dayrell em ação - Correio do Povo

Em 17 de agosto de 1988, os membros da associação, Guilherme Dornelles, Gert Schinke, Gerson Buss e Sydnai Sommer, escalaram os124 metros da chaminé da Usina do Gasômetro, para colocar uma faixa de 25 metros de comprimento em protesto contra a execução de um projeto que colocaria a Usina do Gasômetro no chão. Hoje em dia é impossível pensar em Porto Alegre sem a Usina do Gasômetro. A cidade deve isto à AGAPAN, que soube mobilizar a sociedade.
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ultimosegundo.ig.com.br
Este blogueiro é amigo pessoal de dois dos quatro que subiram na chaminé da Usina. Guilherme Dornelles foi meu vizinho e companheiro de atividades sociais etílicas; Gert Schinke, trabalhou com Vitor, meu irmão, na tesouraria do PT  em 1989 e deu de presente para Vitor o capacete usado naquele momento épico. Guardamos com carinho este objeto, que hoje faz parte da história da nossa cidade.

No alto com um braço estendido Gert
Guilherme agachado ao centro com capacete usado na escalada
portoimagem.com
capacete preservado - Leonel Braz

Sede AGAPAN antes - agapan.blogspot.com

Em razão da sua trajetória, a sorrateira demolição da sede da AGAPAN, no dia 06 de junho de 2011, em circunstâncias ainda não esclarecidas, foi um ato deplorável que atingiu não só a entidade, como também toda a comunidade porto-alegrense e história do movimento ambientalista brasileiro, que teve seu início ligado aos primórdios da entidade. Diante destes fatos a sociedade não pode ficar omissa!
Sede AGAPAN depois - agapan.blogspot.com

No ano em que completou 40 anos de existência, a AGAPAN, sofreu um duro e violento golpe. Porém, seus integrantes prometem reerguer a sede destruída. Faça parte dessa história, associando-se à entidade, através do e-mail: comunicação@agapan.org.br.

A AGAPAN precisa de você!


“Nossas maiores homenagens aos fundadores da AGAPAN, que corajosamente enfrentaram a ditadura militar para defender a natureza e boa qualidade de vida.”


 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Projeto(?) de Revitalização(?) do Cais Mauá



Às vésperas de uma definição das obras de revitalização do cais do porto, trazemos alguns apontamentos que julgamos de relevância para o enriquecimento do debate sobre o tema.

Trata-se de subsídios adquiridos por conta da palestra "PROJETO CAIS MAUÁ E MIAMI RIVER”, proferida pela da Arquiteta Adriana Schönhofen Garcia, mestre em Arquitetura pelo School of Architecture da Florida International University, em 18 de novembro de 2010, na sede o Instituto dos Arquitetos do Brasil, em Porto Alegre.

Para maior compreensão do tema abordado dividimos a postagem em duas partes: a primeira fala da análise da profissional do edital e o projeto vencedor para a revitalização do Cais Mauá; a segunda versa sobre o projeto Miami River.


 1ª  PARTE - CAIS MAUÁ

A arquiteta trabalha em conceituado escritório de arquitetura de fama internacional e suas primeiras considerações foram a respeito da pífia divulgação do edital licitatório e falta de conversão do mesmo para a língua inglesa. Segundo a experiente profissional, um projeto desta envergadura é um sonho almejado por todos os grandes escritórios de arquitetura espraiados pelo mundo. Credita o desinteresse da concorrência internacional exclusivamente à divulgação de caráter regionalizado.

Nota do Blogueiro1: Coincidentemente... Houve apenas um consórcio interessado em participar da licitação, um lobby encabeçado por um político e uma empresa consorciada espanhola. Esta empresa foi visitada várias vezes pelos responsáveis pelo edital e políticos da cena dominante à época da concorrência. Também, não se pode falar em consórcio vencedor (?) se este concorreu sozinho...


                                 
    zona próxima à rodoviária

 Com base no edital ela apontou outra fragilidade da proposta vencedora, a verticalidade da mesma, que não passou pela avaliação da população. A parte interessada mais importante para o sucesso do empreendimento. Pois, seriam os porto-alegrenses os beneficiários diretos das mudanças. Atentos somente às questões técnicas/especulativas (lucro máximo por metro quadro) foram desprezados aspectos como a mobilidade (Avenida Mauá, que oxigena o trânsito do perímetro central) e as pontes de intervenção urbanística indispensáveis para estimular as pessoas a transpor o famigerado muro da Mauá.

Nota do Blogueiro 2: Faltou auscultar a população por que ela é que vai garantir a sustentabilidade na primeira fase e as baixas temporadas do empreendimento; ainda que o objetivo seja declaradamente o incremento do turismo na capital gaúcha. Também, há lapsos quanto à trajetória completa do projeto da ideia conceitual até a efetiva utilização do espaço pelos porto-alegrenses. O projeto não apresenta projeções para as décadas vindouras.

                                    
      zona ao lado do Gasômetro


Relativo às torres de vidro, previstas inicialmente para área contigua ao Gasômetro e região próxima a rodoviária, a arquiteta declara, que as mesmas já não são bem vistas pelos arquitetos no chamado primeiro mundo. Além da cafonice que podem proporcionar, uma vez que um projeto de boa resolução é praticamente inviável pelo elevado custo; as torres oferecem desconfortos térmicos, sendo demasiadamente quentes no verão e demasiadamente frias no inverno. Esta condição prejudica a sustentabilidade sob o ponto de vista econômico e ambiental. A solução destes problemas depende de engenharia sofisticada e materiais caríssimos. A manutenção mecânica da temperatura consome volumes considerados de energia. Aumentando consideravelmente o preço das locações.

Nota do Blogueiro 3: Notícias extra-oficiais informam que as torres foram retiradas do projeto a ser executado. Será? É nítido que o afastamento da população da concepção do projeto original é intencional e garantiu certo dirigismo na elaboração do projeto, dando-lhe certo ar de uma “Dubai Cabocla”, tendendo mais para o privado do que para o espírito púbico.  O que não surpreende ninguém. Despreparo e a cafonice vem pontuando a gestão dos ocupantes do Paço Municipal. Aliás, a Dubai Cabocla é o sonho acalentado pela arrivista classe política local.

* nota 2014: prevaleceu o shopping baixo ao lado do gasômetro (antes estava previsto prédio da altura do gasômetro), e foram mantidas as torres próximo a Rodoviária.

No quesito mobilidade, a concentração elevada de estabelecimentos comerciais nos moldes propostos para o Cais Mauá representará o incremento impactante de 5.000 (cinco mil) veículos a mais circulando pela Avenida Mauá. Lembrando, que a acessibilidade é fator decisivo para sucesso de qualquer empreendimento contemporâneo; piorar o trânsito na região fará com que a revitalização do cais já nasça sem chance de sobre vida e aumentará agonia do centro histórico.

A intervenção proposta para o muro da Mauá no projeto vencedor é uma cortina de água. Lembra a arquiteta que o expediente não será suficiente para atrair pessoas ao cais ou quebrar a segregação arquitetônica imposta pelo muro da Mauá. Nem pode ser considerada como intervenção urbanística.

Nota do Blogueiro 4: Num momento em que o planeta prepara-se para enfrentar uma crise ligada a escassez da água, um exemplo deste é um incentivo direto ao desperdício. Há uma lacuna no projeto quanto à origem desta água, custos para bombeamento e tratamento deste líquido precioso. Se for água do Guaíba vai feder....
                                 

            Cais 1950 plenamente integrado à cidade

  Na proposta vencedora (?) não há qualquer nota a respeito das obras de revitalização e a integração com o comércio da Mauá e do resto do centro da cidade. Parece uma proposição isolada. Um projeto desta envergadura deve necessariamente dialogar com as estruturas existentes. De olho nas vantagens econômicas do empreendimento a proposta vencedora é contra as tendências arquitetônicas contemporâneas mundiais relativas ao tratamento destinado às orlas de cursos d’água nos grandes centros urbanos. De acordo com a nova ótica não basta a mera ocupação comercial destes espaços públicos pela iniciativa privada ou pública para revitalizar este tipo de espaço urbano. A obra deve interagir com as estruturas existentes.

Nota do Blogueiro 5: Não devemos esquecer que as orlas dos cursos d’água ainda são considerados como bens públicos pela nossa legislação. Entregá-los ainda que por tempo determinado à iniciativa privada, deveria ser um último recurso. No entanto, é mais um caso brasileiro no qual a exceção torna-se a regra. As causas como bem sabemos repousam no despreparo dos governantes locais para o trato da coisa pública e os “interésses” (como diria o Brizola) da classe política e da iniciativa privada. É na base do: “- dane-se o comércio local. Vamos ter nosso shopping, nosso centro de negócios, nossa gastronomia, a pobreza que fique do outro lado do muro. Nosso empreendimento é aberto ao público... Que pode pagar. O bem público será privatizado e o público em geral que se exploda!.

            A digníssima palestrante deixa claro que um projeto desta monta, desde a redação do edital deveria envolver a mesclagem de profissionais, acadêmicos, ambientalistas e diversos segmentos da sociedade com o propósito de estabelecer estratégias de ação capazes de atingir e mobilizar a opinião pública. Possibilitando a participação de toda a comunidade em todas as decisões políticas e administrativas referentes ao projeto.

Nota do Blogueiro 6: É claro que arquiteta está distanciada da realidade política brasileira. Nossos administradores perderam a noção de bem comum. Ocupam-se diuturnamente com sustentabilidade partidária, cargos em comissão e o puxa-saquismo para com a iniciativa privada (real (R$) financiadora do jogo político nacional) e o enriquecimento fácil. Aqui mesmo na nossa cidade a sociedade é chamada para opinar sobre desenvolvimento urbano e ambientalismo, mas raramente suas colaborações e ou observações são aceitas e incorporadas aos projetos executados pelos sucessivos governos. A cidade vem numa queda na qualidade de vida constante.

Prevalece a ótica especulativa, que privilegia o interesse econômico dos grandes empreiteiros e a ânsia da desorientada liderança em posar para história como máximos benfeitores (com os bolsos e cuecas cheios dólares de preferência...).  Necessidades prementes e qualidade de vida ficam relegadas à condição acessória.

Conclusões do Blogueiro:

O projeto (?) vencedor compromete-se a respeitar o conjunto arquitetônico do cais. No entanto, não foi apresentado para a avaliação da comunidade acadêmica e a sociedade o detalhamento das alterações pretendidas. Ou seja, não há garantias de que o patrimônio histórico será preservado. O projeto vencedor (?) está desacompanhado de estudos e laudos neste sentido.

                                        
   Plasticidade das antigas portas de ferro dos armazéns


Quanto à vocação portuária, pode-se afirmar que ao longo da história da civilização humana, os portos sempre foram importantes centros de negócios e sobre tudo de democratização da cultura universal. Pois, o conhecimento também é transportado junto com as mercadorias.

Penso, que o projeto (?) Vencedor (?)  se afasta desta visão universal de área portuária. Tem preocupações estritamente negociais, nada culturais e privatizadoras. Se vingar a Dubai Cabocla é bem provável que ela expanda nos anos seguintes. Não me admiraria se a câmara de vereadores viesse a votar uma lei para a construção de um fosso que somado além do muro da Mauá para protegeria o investimento de nós, os bárbaros.



    
 Porto de Alexandria centro cultural na antiguidade




Revitalizar é trazer de volta a vida. Porém, a vida que querem trazer para preencher o cais não é a da camada social conhecida como povo. Talvez seja esse o maior pecado do projeto, além dos outros já citados.

Quem percorre a orla do Guaíba sabe que onde tem acesso, um mínimo de urbanismo e limpeza a população comparece.  Portanto, não há necessidade premente de mega empreendimentos para devolver a vida ao Cais Mauá e orla como um todo. Neste sentido posso citar a Feira Brasil Rural Contemporâneo, que superlotou o cais durante vários dias, em maio de 2010. Na feira havia comércio de pequenos produtores rurais mesclado com a arte e a cultura. Demonstrando a verdadeira vocação de uma zona portuária sem os artificialismos sugeridos pelo projeto (?) vencedor (?) de revitalização (?) do Cais Mauá. Outro exemplo edificante é a ocupação de parte dos armazéns pela feira do livro.


                              
   Lazer sem concreto


Por derradeiro, frente à crise energética cabe ressaltar que o porto não deve fechar totalmente seus armazéns para as embarcações. O transporte fluvial é notoriamente reconhecido como a modalidade de transporte de carga mais econômica, menos poluente e perigosa; do que o feito através da malha rodoviária. O porto em funcionamento consome mão de obra. Neste aspecto há falta de políticas públicas sincronizadas entre as três esferas governamentais.

                            
                                            Atualmente a maioria dos armazéns funcionam de maneira irregular


Notícia de última hora: Houve mudanças na composição do capital social da empresa vencedora (?) da licitação do Cais Mauá. Especialistas em Direto Público já apontam a necessidade da abertura de uma nova concorrência pública, tendo em vista a alteração da composição na empresa Porto Cais Mauá Brasil S.A. Além deste novo imbróglio, falta ainda o parecer da Advocacia Geral da União para a liberação das obras de revitalização (?).


Quem não esteve na Feira Brasil Rural pode ver um pouco do acontecido através do vídeo: Justino Chaplin é Mara... Maracatu!




terça-feira, 22 de março de 2011

22 de março dia Mundial da Água


No dia Mundial da Água reapresentamos a proposta de um Museu das Águas para Porto Alegre

1. Justificativa

A água é uma substância essencial e indispensável para todos os seres vivos e para todas as atividades da sociedade humana. Como componente do ambiente natural da Terra, tem um papel fundamental no equilíbrio ecológico e na preservação das condições ambientais que permitem a nosso planeta gerar e manter a vida como a conhecemos.

A quantidade de água existente no planeta não se altera ao longo dos tempos, mas sua presença não é uniforme:

- espacialmente, oscila entre a abundância excessiva nas zonas mais úmidas e a extrema escassez nas regiões áridas e desérticas;

- temporalmente, em uma mesma região varia, com maior ou menor regularidade, das épocas secas, chegando a fortes estiagens de maior ou menor duração até os períodos de chuvas, mais ou menos intensas, prolongados ou breves.

Desde a revolução industrial, aumentaram em intensidade e em diversidade os usos da água para as atividades humanas e, em decorrência disso, a disponibilidade desse importante recurso natural deixou de ser considerada como ilimitada, tanto localmente quanto em âmbito planetário. Em outras palavras, a água não é um recurso inesgotável. O aumento e a simultaneidade de usos fizeram com que a sociedade fosse confrontada como a realidade da escassez, seja presente ou futura, seja em âmbito mais localizado ou mais amplo. Para determinados usos, entre eles os mais nobres como o abastecimento humano ou a dessedentação animal, a escassez pode-se produzir em termos de quantidade (quando o consumo torna-se maior do que a disponibilidade) ou de qualidade (quando alguns usos produzem alterações de qualidade que impedem o aproveitamento para outros usos).

As questões relacionadas com a disponibilidade limitada da água frente a usos cada vez mais diversificados e crescentes é um tema que vai se tornando prioritário na pauta dos governos e da opinião pública de todo o mundo. Tanto em escala mundial quanto no âmbito das nações, demandam-se políticas públicas que estabeleçam uma gestão pública das águas.

A gestão pública deve ser enfocada na proteção (conservação, recuperação e preservação) dos recursos hídricos e na racionalização e compatibilização dos usos múltiplos desses recursos e concretiza-se em leis, sistemas institucionais e instrumentos gerenciais.

No cerne da política pública para a proteção e o melhor uso das águas está o processo de educação e de conscientização dos cidadãos,

Um museu das águas pode contribuir para a concretização dos objetivos da gestão das águas, na medida em que pode ser importante instrumento de educação e conscientização com todos seus componentes: informação, comunicação, divulgação, participação, entre outras funções culturais.

2. Conceito geral

O museu terá como tema a água, bem ambiental limitado, essencial para a vida e para o desenvolvimento social, suas manifestações na natureza, suas características físicas, os usos múltiplos e simultâneos atuais e ao longo da história e a gestão pública dos recursos hídricos.

3. Proposta básica

O Museu das Águas constituir-se-á de três Eixos:

- Eixo Educativo – em que o tema será desenvolvido em seus diversos aspectos sob forma de modelos reduzidos e maquetes (por exemplo, uma bacia hidrográfica, uma estação de tratamento de água, um sistema de irrigação, uma estação de tratamento de efluentes industriais, uma barragem para geração de energia etc), jogos, instrumentos audiovisuais, programações com escolas, cursos, seminários etc.

- Eixo Histórico – onde serão preservados artefatos e documentos relacionados com a história da água e de seus usos (utensílios de diversas culturas relacionados com os usos da água e dos corpos hídricos, peças e maquinismos com valor histórico referentes a tecnologias, serviços e instituições, documentos, fotos, vídeos ou filmes e outros registros históricos)

- Eixo Artístico – espaço para receber obras produzidas por artistas nos mais variados formatos, suportes, propostas e concepções, enfocando o tema do Museu em seus diferentes aspectos; assim como fomentar a produção dessas obras através de concursos, cursos, oficinas etc. Os espaços expositivos servirão para a apresentação tanto de um acervo a ser constituido quanto para mostras temporárias, oportunizando, inclusive a permuta com entidades similares.

- Os eixos (ou módulos) descritos acima não deverão ser estanques, mas dinamicamente interligados e integrados. Deverá haver a previsão de um espaço comum (midioteca) que abrigue elementos escritos (livros, revistas, cartazes etc), audiovisuais (fotografias, filmes, vídeos, bancos de dados) e sonoros (gravações), aberto ao acesso individual ou coletivo, seja por fruição ou para pesquisas científicas ou educacionais.

4. Museu como Centro de Referência

Em sintonia com a tendência museológica contemporânea de fazer dessas instituições organismos dinâmicos e atuantes, o Museu das Águas deve ser um verdadeiro centro de referência para a conscientização das questões relacionadas com a proteção das águas e a mobilização dos cidadãos. Deve articular-se com outras instituições com finalidade similar, proporcionando oportunidades de pesquisa documental e promovendo conjuntamente eventos educativos, culturais e recreacionais vinculados ao tema central.

Acesse: http://museudasaguasdeportoalegre.wordpress.com/

5. Museus das Águas no Mundo

Em outros países foram criados museus temáticos voltados à água ou que se ocupam com a questão ambiental, de forma mais ampla, onde aparece também a água. A seguir elencamos alguns exemplos de museus existentes.

- Lisboa, Portugal – Museu da Água da EPAL- (http://museudaagua.epal.pt)

- Arnhem, Holanda - o Netherlands Water Museum – (http://www.watermuseum.nl)

- New York, USA – New York Museum of Water – (http://www.nymw.org)

- São Petersburgo, Rússia – (http://www.saint-petersburg.com/museums/museum-water.asp)

- Perugia, Itália – Museo delle Acque de Perugia, (http://www.perugianotizie.blogspot.com)

- Rovigo (Veneto), Itália – Museu delle acque CrespinoItália – (HTTP://www.sistemimuseali.sns.it/content).

- Emilia Romagna, Itália – Ecomuseo delle Acque di Ridracoli – (http://www.riminibeach.it/visitare/ecomuseo-ridracoli)

- Londres, Inglaterra – o Kew Bridge Steam Museum – (http://www.kbsm.org).

- Sierra de Grazalema, Espanha-Ecomuseo del Agua de Benamahoma– (museosdeandalucia.com/losmuseos/ca/Benamahoma)

- Murcia, Espanha -Museo de la Ciência y del Água da Murcia – (murciadailyphoto.blogspot.com/2009_11_01_archive.html)

- Em Buenos Aires, Argentina – (o Palácio de las Águas Corrientes) – (http://www.aysa.com.ar/index.php?id_seccion=189)

- Blumenau, Brasil – (www.radarsul.com.br/blumenau/museu-agua.asp)

-Cuibá, Brasil – Museu-do-morro-da-caixa-dagua-velha – (cuiaba.wordpress.com/…/morro-da-caixa-dagua-velha)

- Piracicaba, Brasil – (www.semaepiracicaba.org.br/site/…/museu-da-agua)
 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Algas Marrons e a Arte Efêmera



Caminhando por uma praia do litoral norte gaúcho me deparei com siluetas e miragens desenhadas na areia. 
 
A composição era bastante interessante: as águas da maré, as algas marrons e a areia interagindo, fazendo desenhos que se transformavam a cada avanço e recuo das ondas.


A primeira coisa que me veio à cabeça foi: “arte efêmera”. Saquei a máquina digital e capturei alguns destes momentos. 

Pesquisando sobre o assunto encontrei o seguinte comentário de Mirtes P. Peroger sobre arte efêmera:

“Primeiro contemplar, admirar, observar o que a Natureza já descartou, pois cumpriu seu papel, para então criar, realizar, imprimir ação: agir, interagir, buscar, se perder em meio à beleza, seja ela viva, morta ou... Efêmera! Trabalhar os sentidos, as emoções! Uma abertura de visão para as coisas simples, que estão ali, muita vez sob nossos pés, mas que podem virar "ARTE" em pouco tempo e assim também desaparecer em minutos... Ao primeiro vento, ao sinal do tempo, pela ação dos passantes... É o trabalho interno do "desprendimento" das coisas materiais, restando apenas o momento: através das fotos, que eternizam a arte efêmera.
Um comentário perfeito para descrever aqueles inusitados momentos em que o olhar criativo humano se deparou com a Mãe Natureza fazendo as vezes de artista plástica.
Este encontro com a arte efêmera foi possível graças ao fenômeno conhecido como
mar chocolatão”. Esta expressão é utilizada pelos veranistas gaúchos para designar as condições do mar nos dias em que ele apresenta a cor amarronzada. A visão causa desconforto e preocupação. Poucos banhistas se arriscam a entrar na água.

                                                  foto: gastao30.wordpress.com                                               foto:  skyscrapercity.com
 A cor marrom se deve a uma substância oleosa composta por algas pardas mortas acumuladas no fundo do mar, que de vez em quando se deslocam destes depósitos para as praias e areias do litoral gaúcho. As mudanças de fluxo nas marés, correntes marinhas, ventos e as variações de temperatura são algumas das causas para a movimentação desta substância amarronzada rumo à costa litorânea.



Texto e fotos: Leonel Braz











segunda-feira, 1 de novembro de 2010

56ª Feira do Livro de Porto Alegre



Não desistimos deste blog. Ocorre que nos últimos meses nos sobrecarregamos com atividades ligadas à Orla do Guaíba e que nos impossibilitaram de realizar novas postagens. Como resultado significativo de toda esta movimentação, citamos a Mostra de Vídeo em Prol do Museu das Águas de Porto Alegre, que Willis e Eu produzimos, realizada em 26 de setembro no Santander Cultural. O documentário "Guaíba Rio ou Lago". O blog do Museu das Águas (museudasaguasdeportoalegre.wordpress.com), que criamos para divulgar a proposta e conteúdos sobre o assunto.

Também, escrevemos um roteiro de uma performance para abrir as palestras de apresentação da proposta do Museu das Águas. Sem contar os seminários e reuniões que freqüentamos para buscar informações a fim de melhor qualificar o nosso trabalho.

ensaio fotográfico da performance

Mas... Sem dúvida nenhuma, o trabalho que mais nos deixou ansioso foi a intervenção na abertura da 56ª Feira do Livro. Desde a primeira intervenção em 2008, percebemos que as fronteiras daquele território das letras ultrapassavam qualquer expectativa que a nossa vã filosofia poderia alcançar. Que na feira não era possível somente adquirir poesia, ali naquele espaço mágico também se podia viver “momentos poesia”.

Quem assistiu a assunção de Carlos Urbim como patrono Feira do Livro 2009, conduzida por Charles Kiefer, ou a cerimônia do seu encerramento, sabe do que eu estou falando. Quanto à abertura da feira de 2010, a qual elegeu como patrono o “Folclorista Paixão Côrtes”, o encantamento não foi diferente.

Os festejos começaram com folcloristas que desfilaram pela feira apresentando a cultura gaúcha. Figuras do Maçambique, das danças gauchescas, mascarados e um declamador, dirigidos pelo novo Patrono da Feira, coloriram a abertura das bancas de livros.


Por sinal, a cultura folclórica gaúcha muito deve ao Paixão e seus amigos, que em 1947 fizeram os primeiros registros de costumes vividos no campo. Iniciando aquilo que ficou conhecido como MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO.

Após, ao desfile a cerimônia se transferiu para o teatro “Sancho Pança”, onde um público formado por amantes das letras, convidados e autoridades, emocionadamente ouviram as declarações de amor à literatura e a cultura do patrono que despedia e as do novo patrono.


Urbim começou seu pronunciamento usando como base o livro de batismo de Paixão Côrtes; trazendo ao público detalhes sobre o nascimento de Paixão, um bebê pra lá de robusto. Em seguida falou um pouco da obra de Paixão e sua importância para o cenário cultural gaúcho. Também, ficamos sabendo dos laços familiares dos dois, ambos oriundos de Santana do Livramento. Urbim, fez uma elegia tão bela ao Paixão ao entregar o posto de patrono, que algumas pessoas foram às lágrimas. Principalmente uma senhora que se sentou ao nosso lado. Ela relatou que havia sido professora de português de Urbim, lá em Santana do Livramento. Orgulhosa, contou detalhes de seu antigo aluno e de como sentia orgulho daquele discípulo que havia se transformado em mestre das letras.

           Presidente da Câmara do Livro, Paixão e Urbim

Paixão, disse que não se considerava um escritor... Mas, sim um escrivinhador. Agradeceu a saudação e a cortesia de Urbim. Disse que ambos haviam bebido leite do teto da mesma vaca. Também disse das suas andanças e do amor pela terra, a cultura do Rio Grande e do orgulho de ser patrono da feira. Demonstrou fortes os traços da humildade que possuem todos os grandes homens da história. Inovou ao unir à sineta (que anuncia a abertura da feira) tocada pelo xerife da Feira, Júlio La Porta, a matraca do folclore gaúcho. Ao lado do prefeito e do xerife eles fizeram o cortejo de abertura que culminou com a apresentação da Banda Municipal.


O trabalho de Paixão Côrtes tem importância fundamental para estabelecimento e firmação da nossa cultura regional. O Manual de Danças Tradicionais Gaúchas, obra dele e de Barbosa Lessa, por exemplo, mostra passo-a-passo, as coreografias das 25 danças tradicionais gaúchas. Consistindo num trabalho de resgate e pesquisa iniciados em 1948, quando da fundação do CTG 35.

Falando em CTGS, Centros de Tradição Gaúcha, atualmente eles se espraiam pelo Brasil e por todo mundo. É um movimento cultural em constante expansão, que divulga pelos quatro cantos do mundo os costumes e os hábitos da gente do Rio Grande do Sul. Isto não teria sido possível sem a inestimável colaboração à cultura regional do Patrono da 56ª Feira do Livro Paixão Cortes.


São cerca de 4.000 entidades cadastradas dedicadas ao culto das tradições gaúchas, movimentando 5 milhões de pessoas em todo mundo.   


Lembramos ainda que Paixão Côrtes serviu como modelo para Estátua do Laçador feita por Antonio Caringi em 1954, por conta de um concurso de escultura que simbolizasse o homem rio-grandense. Concurso este realizado durante as comemorações do IV centenário de fundação de São Paulo. Após a exibição a população de Porto Alegre exigiu que a prefeitura comprasse a estátua. Sendo que a mesma inaugurada no dia 20 de setembro de 1958 na entrada da cidade.



Aos 85 anos Paixão Côrtes continua muito ativo. Avesso às polêmicas que por vezes o assunto tradicionalismo desperta, segue firme e forte. Desenvolve no momento o resgate de uma dança inédita coletada em foto, filme e gravação de áudio de material  coletado há muito tempo e que agora será  ressuscitada pelo mestre. A dança se chama "Americana". Consciente da importância do seu trabalho, mantém a suas expensas todo seu material de pesquisa, que está em estágio de digitalização. 




Levamos o Justino Chaplin para participar do evento e ele fez o maior sucesso com sua gaita. Na saída do cortejo fez sua saudação ao patrono. Também foi cumprimentado pelo Sr. Prefeito José Fortunati. Urbim se aproximou e lhe apertou a mão. Um jornalista ZH, disse que havia fotos do Justino no Slide Show da Zero Hora. Procuramos, mas ainda não conseguimos localizar.














Mais uma vez saímos encantados com a cerimônia de abertura. Fizemos o registro destes momentos com o nosso parco instrumento de filmagem.  Aliás, se alguém se interessar em patrocinar um equipamento de filmagem de melhor gabarito, será muito bem vindo! A arte agradece. Aceitamos inclusive doação de equipamentos usados.


Nossas passagens anteriores pela Feira do Livro de Porto Alegre encontram-se registradas neste blog e nos vídeos do youtube.

Conheça o blog do Museu das Águas de Porto Alegre acessando:

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MORRO SANTA TEREZA - VITÓRIA DA UNIÃO




Para defender o Morro Santa Tereza contra a especulação imobiliária predatória a sociedade se mobilizou. Blogs, sindicatos, associações e grupos ambientalistas diante da ameaça de venda área da FASE, através de uma negociata um tanto obscura, passaram a agir diretamente no sentido oposto. Para tanto, empreenderam pressão sob as autoridades, no mesmo tempo em que tentavam mobilizar a opinião pública em favor da retirada do famigerado projeto de lei.

Como já falamos em outra oportunidade, ao longo do tempo algumas inconsistências do projeto se tornaram de conhecimento da opinião pública. Como a justificativa de descentralização da FASE usada como estandarte para a venda, a qual todos os envolvidos julgaram ser de extrema relevância para melhorar o sistema de tratamento ao menor (Este tema de inquestionável importância, após a desastrosa tramitação legislativa do projeto de lei caiu na vala do esquecimento do governo estadual).


Ressalte-se que todo apoio dado à causa foi importante para o recuo das pretensões do governo em usar a área para favorecer os poderosos da construção. Por conseguinte, angariar a simpatia dos mesmos para o próximo pleito estadual. Mas, de nada adiantariam estes apoios sem a magnífica atuação dos moradores do entorno e suas associações. Estes, além de exercer pressão política direta foram mais além, conseguindo realmente ser ouvidos por toda a coletividade porto-alegrense.


Enquanto alguns lançaram manifestos e comunicados em seus sites e blogs, sem causar qualquer impacto na opinião pública. Os moradores organizadamente foram para ruas fazer passeatas, bloquearam o trânsito, acamparam na Praça da Matriz e compareceram nas três votações para defender suas moradias. Com estas manobras eles furaram o bloqueio imposto pela nossa tendenciosa imprensa, que sabidamente é favor do concreto em detrimento da boa qualidade de vida. Os Moradores do Morro Santa Tereza realmente fizeram a diferença. Pois, de forma incisiva e eficiente tornaram pública a intenção do governo na venda da FASE por valor irrisório e em flagrante desrespeito às leis ambientais. Coisa que os e-mails, blogs, sites e comunicados, apesar da boa intenção não conseguiram fazer.


Acompanhamos todas as votações e pudemos testemunhar o empenho daquela gente humilde e valente. Donas de casa, crianças e velhos conscientes de que somente a união de todos seria capaz de salvar suas moradias. Os moradores lotaram as galerias e corredores da Assembléia Legislativa; apesar da tolerância dos parlamentares e funcionários da casa, era visível o desconforto do aparato legislativo.


O primeiro dia de votação a bancada governista tentou acordo com os moradores, mas eles rejeitaram a proposta por falta de garantias. Sendo que a votação terminou por falta quorum. Fizemos um vídeo daquele primeiro dia vitória com a presença de Justino Chaplin e Swami Benevenutto. Durante as filmagens percebemos que os grandes protagonistas daquele momento eram de fato os moradores. Assim sendo, resolvemos registrar nos vídeos subseqüentes apenas aquelas figuras aguerridas em plena ação reivindicatória.


Na segunda votação, todos nós tínhamos como certa a vitória do governo. Mas, isto não fez diminuir o ânimo e empenho dos moradores. Se perdessem a batalha eles tombariam de cabeça erguida. Então, uma fatalidade aconteceu. O Falecimento de ex-deputado Bernardo de Souza. Por força do regimento da Assembléia, deputados contra a venda pediram a suspensão da sessão plenária. Conduzidos pelas mãos do destino os moradores galgaram mais uma vitória.


Na medida em que o tempo foi passando, aumentou o desgaste do governo frente à opinião pública. Algumas das incongruências do projeto finalmente se tornaram de conhecimento do grande público, que passou a torcer contra o projeto. Temendo piorar sua imagem frente à população em pleno ano eleitoral, Yeda e sua trupe retiraram o time de campo, fazendo isso através nota publicada pela Casa Civil um dia antes da votação final.


Sabedores disso, os moradores compareceram na terceira votação apenas ouvir o líder do governo oficializar a retirada de votação do projeto. Foi um dia de festa para comunidade, as expressões daquelas pessoas muito nos emocionaram. Ouvimos discursos calorosos das lideranças, que falaram do empenho, da persistência e do amor pelo morro. Do esforço de bater de porta em porta para mobilizar a comunidade e a satisfação do dever cumprido.

No mesmo dia ouvimos discursos e atitudes oportunistas de políticos, tentando se aproveitar do momento. Pior, semanas depois tivemos o desprazer de ouvir coisas depreciativas como: - Essa gente pobre só se mexeu para não perder suas casas. Eles vão continuar procriando e em breve o Morro estará todo ocupado, temos que tomar providências...

Uma lamentável demonstração de insensibilidade. Como se a pobreza fosse à causa das mazelas no meio ambiente. Para esta pessoa ou pessoas, somos categóricos em afirmar que quem mais destrói o meio ambiente são pessoas das classes mais altas da nossa sociedade em seus mega empreendimentos imobiliários e industriais. Bem como, se alguns grupos se uniram para batalhar pela viabilização de um parque público no terreno da FASE, somente o estão fazendo devido ao empenho daquela valorosa comunidade, que com garra e organização defenderam seus lares e o Morro Santa Tereza contra a malfadada especulação imobiliária.

Restou a todos a velha lição de que a União Faz a Força. Esperamos que os eletistas de plantão aprendam com os Moradores do Morro Santa Tereza o verdadeiro significado da palavra união. E humildemente busquem junto a eles apoio para a criação do Parque Morro Santa Tereza.



sábado, 10 de julho de 2010

MORRO SANTA TEREZA - FIQUE POR DENTRO



Passado

Segundo o historiador, Eduardo Bueno, a cerca de 400 anos atrás, o Morro Santa Tereza, Porto Alegre, foi ocupado pela população mais antiga que se tem notícia nesta região: a tribo dos índios Arachanes. Descritos como grandes aventureiros, exímios pescadores, estes índios também eram conhecidos pela utilização de centenas plantas e ervas curativas.

Fator estratégico para a segurança da tribo, os 148 metros de elevação do Morro Santa Tereza ofereceram ao nosso povo ancestral o supremo privilégio de poder contemplar 360º de uma natureza exuberante e selvagem; sem qualquer interferência produzida pelas mãos do homem branco. O tempo passou... Eles desapareceram quase sem deixar vestígios e junto com eles se perderam os costumes, crenças e todo o precioso conhecimento sobre as plantas e ervas, adquiridos ao longo do tempo. Uma importante cultura foi inteiramente apagada da face da terra.


Por mais incrível que isto possa parecer, uma pequena parte do território dos Arachanes resistiu ao tempo, aos efeitos da poluição, avanço da urbanização e especulação imobiliária. Estudos realizados pela Fundação Zoobotânica apontam que atualmente nos 74 hectares do Morro Santa Tereza, que pertencem à FASE (Fundação de Atendimento Sócio – Educativo), existem 11 nascentes de água, matas nativas e campos rasteiros praticamente intocados. Um ecossistema representativo da nossa terra antes do desenvolvimento (?).

A denominação “Morro Santa Tereza” se deve a Dom Pedro II, que em 1845 adquiriu as terras do morro, no então Arraial do Menino Deus, mandando ali construir o Colégio Santa Tereza para abrigar moçoilas órfãs. O nome escolhido foi uma homenagem a sua esposa Tereza de Bourbon. Outro acontecimento fantástico é que ainda existem no local, vestígios da construção original do colégio.

Presente

Por ser uma área que pertence ao governo do Estado, a área da FASE apresenta índices de ocupação mínimos. Encontrando-se no seu entorno ainda algumas casas e prédios de classe média regularizados. Mas, na grande maioria da área periférica da FASE podem ser vistas aglomerações populacionais. São vilas instaladas de maneira irregular, algumas famílias construíram suas moradias no local há mais de 40 anos. Não se tem uma contagem oficial desta população; mas estima-se que morem ao redor da FASE 1,5 mil famílias.

Estas famílias estão distribuídas em 7 vilas, são elas: Vila Gaúcha, União Santa Tereza, Santa Rita, Barracão, Ecológica, Figueira e Vila Padre Cacique. Todas elas contam com associações de moradores possuidoras de alto grau de organização e interatividade. Bem como, as lideranças são extremamente atuantes e carismáticas.




Apesar dos esforços de ambientalistas, ONGs, de alguns políticos, foi através da mobilização das associações de moradores do Morro Santa Tereza, que a cidade de fato abriu os olhos para a tentativa de venda repentina e acelerada da área FASE. Ante a ameaça da perda de seus lares as comunidades do entorno se uniram e saíram às ruas para protestar várias vezes. Pressionaram e compareceram em peso nas três votações do PL 388. Votações nas quais a bancada parlamentar de Yeda tentou forjar uma lei para a venda daquele precioso patrimônio público por preço aviltante.

Ao longo das três semanas de votação, irregularidades e inconsistências ligadas ao projeto de venda foram sendo conhecidas pela opinião pública. Entre elas destacamos as seguintes:

- A avaliação feita por empresa terceirizada, do valor de CR$79.376.000,00 por 74 hectares em zona nobre da cidade, sendo que apenas os DOIS hectares do antigo Estádio dos Eucaliptos, estão avaliados em R$20.000.000,00 (semelhante ao caso da arena do Grêmio, em que uma área do Estado no valor de R$ 35.000.000,00, foi trocada por outra no valor de R$ 3.000.000,00). Tais fatos têm o condão de sugerir que estes negócios são manobras deslavadas em favor da especulação imobiliária;

- A empresa contratada não pertence ao setor imobiliário, da engenharia, da arquitetura ou agrimensura. Sua atividade fim está ligada a sinalização de aeroportos (?) e à alimentação (?). Sua contratação foi feita em 2006, sem licitação pública;

- Alardeada a venda como forma de patrocinar a “descentralização da FASE”, sobre o assunto propriamente dito, “descentralização”, não foi apresentada nenhuma linha. Circularam apenas as plantas para construção de uma nova unidade e a boa intenção (?) do governo em rever a situação pedagógica dos internos da FASE;

- Segundo alguns deputados estaduais, a descentralização poderia ser feita com recursos oriundos da venda de ações do BANRISUL, que rendeu aproximadamente R$ 1 bilhão de reais aos cofres públicos;

- O projeto de lei para a venda do Morro não ofereceu garantias quanto à proteção das matas nativas,vertentes e sítios históricos;

- Também, não apresentou garantias relativas à manutenção e regularização das moradias existentes no entorno da área a ser vendida.

Futuro

Afastada (temporariamente) a possibilidade da venda do terreno da FASE, com a retirada pelo governo do pedido de urgência para a votação do PL 388. Não deve a sociedade baixar a guarda. Mesmo diante das declarações públicas do governo que se sucederam, de desistência da venda e de interesse na criação de um parque público no terreno da FASE. Pois, como sabemos a moralidade e o cumprimento de promessas de campanha eleitoral não fazem parte do cotidiano de nossos políticos.


Também, deve-se insistir junto ao município, que este regularize os lotes de moradores que não ofereçam risco de morte aos moradores, que não estejam dentro de áreas valor histórico/paisagístico ou de proteção ambiental permanente. Bem como, se proceda mais rápido possível, o cadastramento de moradores para evitar o inchaço da população no entorno do futuro parque.


O Parque do Morro Santa Tereza pode ser considerado como a maior novidade em termos urbanísticos das últimas décadas para a cidade de Porto Alegre. Por isso, a sociedade deve emanter-se vigilante e deve exigir do governo que cumpra sua promessa de transformar efetivamente os 74 hectares da FASE, no Morro Santa Tereza, num belíssimo parque público.



POAemMovimento

POAemMovimento é coletivo de arte, dedicado a exercer a voz da cidadania, com o uso sem restrição, de toda e qualquer forma de expressão artística.

Advogado e Artista Plástico

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