Para defender o Morro Santa Tereza contra a especulação imobiliária predatória a sociedade se mobilizou. Blogs, sindicatos, associações e grupos ambientalistas diante da ameaça de venda área da FASE, através de uma negociata um tanto obscura, passaram a agir diretamente no sentido oposto. Para tanto, empreenderam pressão sob as autoridades, no mesmo tempo em que tentavam mobilizar a opinião pública em favor da retirada do famigerado projeto de lei.
Como já falamos em outra oportunidade, ao longo do tempo algumas inconsistências do projeto se tornaram de conhecimento da opinião pública. Como a justificativa de descentralização da FASE usada como estandarte para a venda, a qual todos os envolvidos julgaram ser de extrema relevância para melhorar o sistema de tratamento ao menor (Este tema de inquestionável importância, após a desastrosa tramitação legislativa do projeto de lei caiu na vala do esquecimento do governo estadual).
Ressalte-se que todo apoio dado à causa foi importante para o recuo das pretensões do governo em usar a área para favorecer os poderosos da construção. Por conseguinte, angariar a simpatia dos mesmos para o próximo pleito estadual. Mas, de nada adiantariam estes apoios sem a magnífica atuação dos moradores do entorno e suas associações. Estes, além de exercer pressão política direta foram mais além, conseguindo realmente ser ouvidos por toda a coletividade porto-alegrense.
Enquanto alguns lançaram manifestos e comunicados em seus sites e blogs, sem causar qualquer impacto na opinião pública. Os moradores organizadamente foram para ruas fazer passeatas, bloquearam o trânsito, acamparam na Praça da Matriz e compareceram nas três votações para defender suas moradias. Com estas manobras eles furaram o bloqueio imposto pela nossa tendenciosa imprensa, que sabidamente é favor do concreto em detrimento da boa qualidade de vida. Os Moradores do Morro Santa Tereza realmente fizeram a diferença. Pois, de forma incisiva e eficiente tornaram pública a intenção do governo na venda da FASE por valor irrisório e em flagrante desrespeito às leis ambientais. Coisa que os e-mails, blogs, sites e comunicados, apesar da boa intenção não conseguiram fazer.
Acompanhamos todas as votações e pudemos testemunhar o empenho daquela gente humilde e valente. Donas de casa, crianças e velhos conscientes de que somente a união de todos seria capaz de salvar suas moradias. Os moradores lotaram as galerias e corredores da Assembléia Legislativa; apesar da tolerância dos parlamentares e funcionários da casa, era visível o desconforto do aparato legislativo.
O primeiro dia de votação a bancada governista tentou acordo com os moradores, mas eles rejeitaram a proposta por falta de garantias. Sendo que a votação terminou por falta quorum. Fizemos um vídeo daquele primeiro dia vitória com a presença de Justino Chaplin e Swami Benevenutto. Durante as filmagens percebemos que os grandes protagonistas daquele momento eram de fato os moradores. Assim sendo, resolvemos registrar nos vídeos subseqüentes apenas aquelas figuras aguerridas em plena ação reivindicatória.
Na segunda votação, todos nós tínhamos como certa a vitória do governo. Mas, isto não fez diminuir o ânimo e empenho dos moradores. Se perdessem a batalha eles tombariam de cabeça erguida. Então, uma fatalidade aconteceu. O Falecimento de ex-deputado Bernardo de Souza. Por força do regimento da Assembléia, deputados contra a venda pediram a suspensão da sessão plenária. Conduzidos pelas mãos do destino os moradores galgaram mais uma vitória.
Na medida em que o tempo foi passando, aumentou o desgaste do governo frente à opinião pública. Algumas das incongruências do projeto finalmente se tornaram de conhecimento do grande público, que passou a torcer contra o projeto. Temendo piorar sua imagem frente à população em pleno ano eleitoral, Yeda e sua trupe retiraram o time de campo, fazendo isso através nota publicada pela Casa Civil um dia antes da votação final.
Sabedores disso, os moradores compareceram na terceira votação apenas ouvir o líder do governo oficializar a retirada de votação do projeto. Foi um dia de festa para comunidade, as expressões daquelas pessoas muito nos emocionaram. Ouvimos discursos calorosos das lideranças, que falaram do empenho, da persistência e do amor pelo morro. Do esforço de bater de porta em porta para mobilizar a comunidade e a satisfação do dever cumprido.
No mesmo dia ouvimos discursos e atitudes oportunistas de políticos, tentando se aproveitar do momento. Pior, semanas depois tivemos o desprazer de ouvir coisas depreciativas como: - Essa gente pobre só se mexeu para não perder suas casas. Eles vão continuar procriando e em breve o Morro estará todo ocupado, temos que tomar providências...
Uma lamentável demonstração de insensibilidade. Como se a pobreza fosse à causa das mazelas no meio ambiente. Para esta pessoa ou pessoas, somos categóricos em afirmar que quem mais destrói o meio ambiente são pessoas das classes mais altas da nossa sociedade em seus mega empreendimentos imobiliários e industriais. Bem como, se alguns grupos se uniram para batalhar pela viabilização de um parque público no terreno da FASE, somente o estão fazendo devido ao empenho daquela valorosa comunidade, que com garra e organização defenderam seus lares e o Morro Santa Tereza contra a malfadada especulação imobiliária.
Restou a todos a velha lição de que a União Faz a Força. Esperamos que os eletistas de plantão aprendam com os Moradores do Morro Santa Tereza o verdadeiro significado da palavra união. E humildemente busquem junto a eles apoio para a criação do Parque Morro Santa Tereza.
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