A Feira do Livro de nossa cidade não só vende poesias, como também oferece momentos poesia. Carbon kid e Eu intuímos que ocorreria um destes durante a abertura da 55ª edição. Por conta disso, resolvemos participar do evento oferecendo um pouco de poesia e ativismo ecológico. Com este propósito convocamos nosso novo personagem “Justino Chaplin” para comparecer ao evento.
Depois da “Morte de Plástico”, ficamos com medo de ficar marcados com estigma de um único personagem na praça. Ela tinha criado uma empatia forte com a cidade e prestado grandes serviços combatendo a construção de habitações nas margens do Rio Guaíba no episódio do Pontal do Estaleiro.
Para fugir do estigma deveríamos necessariamente criar um novo personagem que falasse da vida. Porém, como a “Morte de Plástico”, o novo personagem teria que ser impactante, ter humor, poesia e grande poder de comunicação.
Foi então, que olhando um cartaz de Charles Chaplin, percebi certa semelhança com Carbon kid. Era um cartaz num banheiro de bar. Pensei, é um feito da cerveja... Mas, não era. Quando voltei pra casa, vendo um pôster do Chaplin, concluí que Kid se transformaria em Chaplin e seria o nosso novo personagem.
Fiquei “loco de contente”, quase não dei chance pro kid contestar a idéia. Na medida em que falávamos sobre a vida e a obra de Charles Chaplin, mais a idéia nos emocionava. Tratei de conseguir vídeos do Chaplin pro Kid fazer laboratório e ele aos poucos foi incorporando o personagem.
Por não se tratar de um cover do Chaplin e para conceder licença poética ao Kid, demos ao personagem o nome de: “Justino Chaplin”. Um juiz disposto a disparar cartões vermelhos contra as imoralidades e defender a natureza com a mesma disposição e bom humor que tinha o “Carlitos”, o personagem criado pelo genial artista Charles Chaplin.
(Um personagem “de responsa” e absolutamente adorável caiu mais uma vez em nossas mãos. Pretendemos manusear as cordas que lhe dão sustentação no palco com o mesmo empenho e a dedicação de seu criador original)
A escolha não poderia ser melhor. Chaplin, além de cineasta foi um grande pensador e crítico social. Denunciou em sua obra grandes problemas da sociedade moderna, tais como: a miséria, o desemprego, a ameaça dos governos fascistas, em especial o “nazismo” (seus filmes foram proibidos na Alemanha em 1930) e as mazelas do sistema capitalista (Saiu dos EUA em 1952 por conta da acusação de que era um “perigoso comunista”).
Seu personagem mais famoso foi o vagabundo Carlitos, oprimido e engraçado, este personagem denunciava as injustiças sociais. De forma inteligente e engraçada, este grande artista sabia como fazer rir e também chorar.
MAS, ONDE ENTRA JUSTINO CHAPLIN E A FEIRA DO LIVRO NESSA HISTÓRIA?
O Justino Chaplin apareceu por primeiro no show de julgamento público da governadora Yeda e depois num protesto contra o espigão da Lima e Silva. Foram duas aparições nas quais Kid afinou o personagem, comprovou o carisma da figura e complementou o processo de criação do personagem.
A CERIMÔNIA E OU CELEBRAÇÃO DE ABERTURA DA 55ª FEIRA DO LIVRO
Optamos em fazer a estréia oficial (para nós mesmos) do Justino na abertura da 55ª Feira do Livro por que era o lugar mais nobre que encontramos. E por que queríamos homenagear o patrono da feira Carlos Urbim com a presença lúdica do nosso “Justino Chaplin”. Pretendíamos agradecer o apoio prestado por ele à campanha vitoriosa do “Não ao Pontal. Além disso, daríamos inicio a nossa nova campanha a respeito do desenvolvimento conceito “Rio Guaíba”.
Para vestir o figurino do personagem, Carbon kid utilizou como camarim um banheiro da Casa de Cultura Mário Quintana. A transformação foi bárbara. Ao longo do caminho até o Cais do Porto, local onde se realizaria a cerimônia, Justino Chaplin se misturou às pessoas sendo recebido com amabilidade e sorrisos. O clima quente não foi obstáculo para o entusiasmo dele.
Quando começou a cerimônia pensamos que ia ser aquele negócio chato de discurso para cá, discursos pra lá... E de fato aconteceram os tais discursos... O dos políticos seguiu a métrica conhecida. Sempre almejando os louros aos quais não fazem jus. Esta monotonia era quebrada pela tradutora para linguagem brasileira de sinais, uma menina negra, que com cabelos com rabo-de-cavalo e luvas brancas, parecia estar fazendo homenagem ao Michael Jackson. (Lá no fundão de vez em quando cantávamos Thriller... thriller – não dava pra resistir).
Justino Chaplin dançou o hino nacional. E com seu cartaz em forma de peixe, aguardava o passeio inaugural para homenagear Carlos Urbim, entregando-lhe, humildemente, uma cópia de nossa lenda do Rio Guaíba.
Foi então, que foi dada a palavra aos “Mestres”. Charles Kiefer fez um relato do glorioso período em que esteve à frente da feira como Patrono. Inovou ao sugerir a eleição direta para a escolha do patrono. Coisa muito justa.
O Carlos Urbim subiu ao palco e nos energizou com uma alegria tão contagiante que por alguns instantes o calor desapareceu. O auditório ficou inebriado com as palavras do escritor. Ele falou de sua paixão pelo ofício de escrever para o público infantil, da sua importante missão de trazer ao mundo novos leitores . Também, da relevância do livro na formação do cidadão, da necessidade de incentivo constante à leitura e da democratização da cultura para o real desenvolvimento da sociedade.
Fez um desfile de seus livros e personagens principais. Era como se naquele momento todos os personagens estivessem ali presentes corporificados na pessoa de seu criador.
E mais... A escolha do seu nome como patrono da feira tinha para ele o significado de reconhecimento de sua obra e de seus esforços em favor da literatura. Generoso, encheu o Teatro Sancho Pança com sua felicidade e a compartilhou com os presentes. Vimos o público nitidamente emocionado com aquelas palavras. Professores foram literalmente às lágrimas.
Não podemos esquecer de uma personagem de um seus livros, “Uma Graça de Traça”, que adentrou no palco acrescentando um colorido ainda mais lúdico e surreal à cena.
Não bastasse isso, após os discursos finais, o Padrinho da 55ª Feira do Livro, saiu em direção da Feira para realizar seu primeiro passeio com o tal. Interceptado pelo a banda de um homem só, Urbim, mostrou disposição a saiu dançando que nem guri ("O Guri Daltônico"), sendo acompanhado pelos presentes, que ainda emocionados com as palavras do patrono, entregaram-se à dança celebrando aquele inesquecível momento mágico.
(No meio do cortejo Justino Chaplin recebeu parabéns do escritor Charles Kiefer. Como “Charles” em português significa “Carlos”. Fiquei pensando... Chaplin, Gerbase, Kiefer e Urbin todos eles são “Carlos” e “Geniais” por que são pessoas ousadamente simples)
Justino Chaplin seguiu este cortejo. E ao final entregou para Urbim uma cópia de nossa Lenda do Rio Guaíba. Registramos este glorioso acontecimento e voltamos para casa “pra lá de contentes”, com a certeza de que havíamos participado de um grande e mágico “momento poesia”.
Veja no youtube a estréia de Justino Chaplin na Abertura da 55ª Feira do Livro de Porto alegre acessando este link: