Caminhando por uma praia do litoral norte gaúcho me deparei com siluetas e miragens desenhadas na areia.
A composição era bastante interessante: as águas da maré, as algas marrons e a areia interagindo, fazendo desenhos que se transformavam a cada avanço e recuo das ondas.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi: “arte efêmera”. Saquei a máquina digital e capturei alguns destes momentos.
Pesquisando sobre o assunto encontrei o seguinte comentário deMirtes P. Peroger sobre arte efêmera:
“Primeiro contemplar, admirar, observar o que a Natureza já descartou, pois cumpriu seu papel, para então criar, realizar, imprimir ação: agir, interagir, buscar, se perder em meio à beleza, seja ela viva, morta ou... Efêmera! Trabalhar os sentidos, as emoções! Uma abertura de visão para as coisas simples, que estão ali, muita vez sob nossos pés, mas que podem virar "ARTE" em pouco tempo e assim também desaparecer em minutos... Ao primeiro vento, ao sinal do tempo, pela ação dos passantes... É o trabalho interno do "desprendimento" das coisas materiais, restando apenas o momento: através das fotos, que eternizama arte efêmera.”
Um comentário perfeito para descrever aqueles inusitados momentos em que o olhar criativo humano se deparou com a Mãe Natureza fazendo as vezes de artista plástica.
Este encontro com a arte efêmera foi possível graças ao fenômeno conhecido como
“mar chocolatão”. Esta expressão é utilizada pelos veranistas gaúchos para designar as condições do mar nos dias em que ele apresenta a cor amarronzada. A visão causa desconforto e preocupação. Poucos banhistas se arriscam a entrar na água.
A cor marrom se deve a uma substância oleosa composta por algas pardas mortas acumuladas no fundo do mar, que de vez em quando se deslocam destes depósitos para as praias e areias do litoral gaúcho. As mudanças de fluxo nas marés, correntes marinhas, ventos e as variações de temperatura são algumas das causas para a movimentação desta substância amarronzada rumo à costa litorânea.
Não desistimos deste blog. Ocorre que nos últimos meses nos sobrecarregamos com atividades ligadas à Orla do Guaíba e que nos impossibilitaram de realizar novas postagens. Como resultado significativo de toda esta movimentação, citamos a Mostra de Vídeo em Prol do Museu das Águas de Porto Alegre, que Willis e Eu produzimos, realizada em 26 de setembro no Santander Cultural. O documentário "Guaíba Rio ou Lago". O blog do Museu das Águas (museudasaguasdeportoalegre.wordpress.com), que criamos para divulgar a proposta e conteúdos sobre o assunto.
Também, escrevemos um roteiro de uma performance para abrir as palestras de apresentação da proposta do Museu das Águas. Sem contar os seminários e reuniões que freqüentamos para buscar informações a fim de melhor qualificar o nosso trabalho.
ensaio fotográfico da performance
Mas... Sem dúvida nenhuma, o trabalho que mais nos deixou ansioso foi a intervenção na abertura da 56ª Feira do Livro. Desde a primeira intervenção em 2008, percebemos que as fronteiras daquele território das letras ultrapassavam qualquer expectativa que a nossa vã filosofia poderia alcançar. Que na feira não era possível somente adquirir poesia, ali naquele espaço mágico também se podia viver “momentos poesia”.
Quem assistiu a assunção de Carlos Urbim como patrono Feira do Livro 2009, conduzida por Charles Kiefer, ou a cerimônia do seu encerramento, sabe do que eu estou falando. Quanto à abertura da feira de 2010, a qual elegeu como patrono o “Folclorista Paixão Côrtes”, o encantamento não foi diferente.
Os festejos começaram com folcloristas que desfilaram pela feira apresentando a cultura gaúcha. Figuras do Maçambique, das danças gauchescas, mascarados e um declamador, dirigidos pelo novo Patrono da Feira, coloriram a abertura das bancas de livros.
Por sinal, a cultura folclórica gaúcha muito deve ao Paixão e seus amigos, que em 1947 fizeram os primeiros registros de costumes vividos no campo. Iniciando aquilo que ficou conhecido como MOVIMENTO TRADICIONALISTA GAÚCHO.
Após, ao desfile a cerimônia se transferiu para o teatro “Sancho Pança”, onde um público formado por amantes das letras, convidados e autoridades, emocionadamente ouviram as declarações de amor à literatura e a cultura do patrono que despedia e as do novo patrono.
Urbim começou seu pronunciamento usando como base o livro de batismo de Paixão Côrtes; trazendo ao público detalhes sobre o nascimento de Paixão, um bebê pra lá de robusto. Em seguida falou um pouco da obra de Paixão e sua importância para o cenário cultural gaúcho. Também, ficamos sabendo dos laços familiares dos dois, ambos oriundos de Santana do Livramento. Urbim, fez uma elegia tão bela ao Paixão ao entregar o posto de patrono, que algumas pessoas foram às lágrimas. Principalmente uma senhora que se sentou ao nosso lado. Ela relatou que havia sido professora de português de Urbim, lá em Santana do Livramento. Orgulhosa, contou detalhes de seu antigo aluno e de como sentia orgulho daquele discípulo que havia se transformado em mestre das letras.
Presidente da Câmara do Livro, Paixão e Urbim
Paixão, disse que não se considerava um escritor... Mas, sim um escrivinhador. Agradeceu a saudação e a cortesia de Urbim. Disse que ambos haviam bebido leite do teto da mesma vaca. Também disse das suas andanças e do amor pela terra, a cultura do Rio Grande e do orgulho de ser patrono da feira. Demonstrou fortes os traços da humildade que possuem todos os grandes homens da história. Inovou ao unir à sineta (que anuncia a abertura da feira) tocada pelo xerife da Feira, Júlio La Porta, a matraca do folclore gaúcho. Ao lado do prefeito e do xerife eles fizeram o cortejo de abertura que culminou com a apresentação da Banda Municipal.
O trabalho de Paixão Côrtes tem importância fundamental para estabelecimento e firmação da nossa cultura regional. O Manual de Danças Tradicionais Gaúchas, obra dele e de Barbosa Lessa, por exemplo, mostra passo-a-passo, as coreografias das 25 danças tradicionais gaúchas. Consistindo num trabalho de resgate e pesquisa iniciados em 1948, quando da fundação do CTG 35.
Falando em CTGS, Centros de Tradição Gaúcha, atualmente eles se espraiam pelo Brasil e por todo mundo. É um movimento cultural em constante expansão, que divulga pelos quatro cantos do mundo os costumes e os hábitos da gente do Rio Grande do Sul. Isto não teria sido possível sem a inestimável colaboração à cultura regional do Patrono da 56ª Feira do Livro Paixão Cortes.
São cerca de 4.000 entidades cadastradas dedicadas ao culto das tradições gaúchas, movimentando 5 milhões de pessoas em todo mundo.
Lembramos ainda que Paixão Côrtes serviu como modelo para Estátua do Laçador feita por Antonio Caringi em 1954, por conta de um concurso de escultura que simbolizasse o homem rio-grandense. Concurso este realizado durante as comemorações do IV centenário de fundação de São Paulo. Após a exibição a população de Porto Alegre exigiu que a prefeitura comprasse a estátua. Sendo que a mesma inaugurada no dia 20 de setembro de 1958 na entrada da cidade.
Aos 85 anos Paixão Côrtes continua muito ativo. Avesso às polêmicas que por vezes o assunto tradicionalismo desperta, segue firme e forte. Desenvolve no momento o resgate de uma dança inédita coletada em foto, filme e gravação de áudio de material coletado há muito tempo e que agora será ressuscitada pelo mestre. A dança se chama "Americana". Consciente da importância do seu trabalho, mantém a suas expensas todo seu material de pesquisa, que está em estágio de digitalização.
Levamos o Justino Chaplin para participar do evento e ele fez o maior sucesso com sua gaita. Na saída do cortejo fez sua saudação ao patrono. Também foi cumprimentado pelo Sr. Prefeito José Fortunati. Urbim se aproximou e lhe apertou a mão. Um jornalista ZH, disse que havia fotos do Justino no Slide Show da Zero Hora. Procuramos, mas ainda não conseguimos localizar.
Mais uma vez saímos encantados com a cerimônia de abertura. Fizemos o registro destes momentos com o nosso parco instrumento de filmagem. Aliás, se alguém se interessar em patrocinar um equipamento de filmagem de melhor gabarito, será muito bem vindo! A arte agradece. Aceitamos inclusive doação de equipamentos usados.
Nossas passagens anteriores pela Feira do Livro de Porto Alegre encontram-se registradas neste blog e nos vídeos do youtube.
Conheça o blog do Museu das Águas de Porto Alegre acessando:
Para defender o Morro Santa Tereza contra a especulação imobiliária predatória a sociedade se mobilizou. Blogs, sindicatos, associações e grupos ambientalistas diante da ameaça de venda área da FASE, através de uma negociata um tanto obscura, passaram a agir diretamente no sentido oposto. Para tanto, empreenderam pressão sob as autoridades, no mesmo tempo em que tentavam mobilizar a opinião pública em favor da retirada do famigerado projeto de lei.
Como já falamos em outra oportunidade, ao longo do tempo algumas inconsistências do projeto se tornaram de conhecimento da opinião pública. Como a justificativa de descentralização da FASE usada como estandarte para a venda, a qual todos os envolvidos julgaram ser de extrema relevância para melhorar o sistema de tratamento ao menor (Este tema de inquestionável importância, após a desastrosa tramitação legislativa do projeto de lei caiu na vala do esquecimento do governo estadual).
Ressalte-se que todo apoio dado à causa foi importante para o recuo das pretensões do governo em usar a área para favorecer os poderosos da construção. Por conseguinte, angariar a simpatia dos mesmos para o próximo pleito estadual. Mas, de nada adiantariam estes apoios sem a magnífica atuação dos moradores do entorno e suas associações. Estes, além de exercer pressão política direta foram mais além, conseguindo realmente ser ouvidos por toda a coletividade porto-alegrense.
Enquanto alguns lançaram manifestos e comunicados em seus sites e blogs, sem causar qualquer impacto na opinião pública. Os moradores organizadamente foram para ruas fazer passeatas, bloquearam o trânsito, acamparam na Praça da Matriz e compareceram nas três votações para defender suas moradias. Com estas manobras eles furaram o bloqueio imposto pela nossa tendenciosa imprensa, que sabidamente é favor do concreto em detrimento da boa qualidade de vida. Os Moradores do Morro Santa Tereza realmente fizeram a diferença. Pois, de forma incisiva e eficiente tornaram pública a intenção do governo na venda da FASE por valor irrisório e em flagrante desrespeito às leis ambientais. Coisa que os e-mails, blogs, sites e comunicados, apesar da boa intenção não conseguiram fazer.
Acompanhamos todas as votações e pudemos testemunhar o empenho daquela gente humilde e valente. Donas de casa, crianças e velhos conscientes de que somente a união de todos seria capaz de salvar suas moradias. Os moradores lotaram as galerias e corredores da Assembléia Legislativa; apesar da tolerância dos parlamentares e funcionários da casa, era visível o desconforto do aparato legislativo.
O primeiro dia de votação a bancada governista tentou acordo com os moradores, mas eles rejeitaram a proposta por falta de garantias. Sendo que a votação terminou por falta quorum. Fizemos um vídeo daquele primeiro dia vitória com a presença de Justino Chaplin e Swami Benevenutto. Durante as filmagens percebemos que os grandes protagonistas daquele momento eram de fato os moradores. Assim sendo, resolvemos registrar nos vídeos subseqüentes apenas aquelas figuras aguerridas em plena ação reivindicatória.
Na segunda votação, todos nós tínhamos como certa a vitória do governo. Mas, isto não fez diminuir o ânimo e empenho dos moradores. Se perdessem a batalha eles tombariam de cabeça erguida. Então, uma fatalidade aconteceu. O Falecimento de ex-deputado Bernardo de Souza. Por força do regimento da Assembléia, deputados contra a venda pediram a suspensão da sessão plenária. Conduzidos pelas mãos do destino os moradores galgaram mais uma vitória.
Na medida em que o tempo foi passando, aumentou o desgaste do governo frente à opinião pública. Algumas das incongruências do projeto finalmente se tornaram de conhecimento do grande público, que passou a torcer contra o projeto. Temendo piorar sua imagem frente à população em pleno ano eleitoral, Yeda e sua trupe retiraram o time de campo, fazendo isso através nota publicada pela Casa Civil um dia antes da votação final.
Sabedores disso, os moradores compareceram na terceira votação apenas ouvir o líder do governo oficializar a retirada de votação do projeto. Foi um dia de festa para comunidade, as expressões daquelas pessoas muito nos emocionaram. Ouvimos discursos calorosos das lideranças, que falaram do empenho, da persistência e do amor pelo morro. Do esforço de bater de porta em porta para mobilizar a comunidade e a satisfação do dever cumprido.
No mesmo dia ouvimos discursos e atitudes oportunistas de políticos, tentando se aproveitar do momento. Pior, semanas depois tivemos o desprazer de ouvir coisas depreciativas como: - Essa gente pobre só se mexeu para não perder suas casas. Eles vão continuar procriando e em breve o Morro estará todo ocupado, temos que tomar providências...
Uma lamentável demonstração de insensibilidade. Como se a pobreza fosse à causa das mazelas no meio ambiente. Para esta pessoa ou pessoas, somos categóricos em afirmar que quem mais destrói o meio ambiente são pessoas das classes mais altas da nossa sociedade em seus mega empreendimentos imobiliários e industriais. Bem como, se alguns grupos se uniram para batalhar pela viabilização de um parque público no terreno da FASE, somente o estão fazendo devido ao empenho daquela valorosa comunidade, que com garra e organização defenderam seus lares e o Morro Santa Tereza contra a malfadada especulação imobiliária.
Restou a todos a velha lição de que a União Faz a Força. Esperamos que os eletistas de plantão aprendam com os Moradores do Morro Santa Tereza o verdadeiro significado da palavra união. E humildemente busquem junto a eles apoio para a criação do Parque Morro Santa Tereza.
Segundo o historiador, Eduardo Bueno, a cerca de 400 anos atrás, o Morro Santa Tereza, Porto Alegre, foi ocupado pela população mais antiga que se tem notícia nesta região: a tribo dos índios Arachanes. Descritos como grandes aventureiros, exímios pescadores, estes índios também eram conhecidos pela utilização de centenas plantas e ervas curativas.
Fator estratégico para a segurança da tribo, os 148 metros de elevação do Morro Santa Tereza ofereceram ao nosso povo ancestral o supremo privilégio de poder contemplar 360º de uma natureza exuberante e selvagem; sem qualquer interferência produzida pelas mãos do homem branco. O tempo passou... Eles desapareceram quase sem deixar vestígios e junto com eles se perderam os costumes, crenças e todo o precioso conhecimento sobre as plantas e ervas, adquiridos ao longo do tempo. Uma importante cultura foi inteiramente apagada da face da terra.
Por mais incrível que isto possa parecer, uma pequena parte do território dos Arachanes resistiu ao tempo, aos efeitos da poluição, avanço da urbanização e especulação imobiliária. Estudos realizados pela Fundação Zoobotânica apontam que atualmente nos 74 hectares do Morro Santa Tereza, que pertencem à FASE (Fundação de Atendimento Sócio – Educativo), existem 11 nascentes de água, matas nativas e campos rasteiros praticamente intocados. Um ecossistema representativo da nossa terra antes do desenvolvimento (?).
A denominação “Morro Santa Tereza” se deve a Dom Pedro II, que em 1845 adquiriu as terras do morro, no então Arraial do Menino Deus, mandando ali construir o Colégio Santa Tereza para abrigar moçoilas órfãs. O nome escolhido foi uma homenagem a sua esposa Tereza de Bourbon. Outro acontecimento fantástico é que ainda existem no local, vestígios da construção original do colégio.
Presente
Por ser uma área que pertence ao governo do Estado, a área da FASE apresenta índices de ocupação mínimos. Encontrando-se no seu entorno ainda algumas casas e prédios de classe média regularizados. Mas, na grande maioria da área periférica da FASE podem ser vistas aglomerações populacionais. São vilas instaladas de maneira irregular, algumas famílias construíram suas moradias no local há mais de 40 anos. Não se tem uma contagem oficial desta população; mas estima-se que morem ao redor da FASE 1,5 mil famílias.
Estas famílias estão distribuídas em 7 vilas, são elas: Vila Gaúcha, União Santa Tereza, Santa Rita, Barracão, Ecológica, Figueira e Vila Padre Cacique. Todas elas contam com associações de moradores possuidoras de alto grau de organização e interatividade. Bem como, as lideranças são extremamente atuantes e carismáticas.
Apesar dos esforços de ambientalistas, ONGs, de alguns políticos, foi através da mobilização das associações de moradores do Morro Santa Tereza, que a cidade de fato abriu os olhos para a tentativa de venda repentina e acelerada da área FASE. Ante a ameaça da perda de seus lares as comunidades do entorno se uniram e saíram às ruas para protestar várias vezes. Pressionaram e compareceram em peso nas três votações do PL 388. Votações nas quais a bancada parlamentar de Yeda tentou forjar uma lei para a venda daquele precioso patrimônio público por preço aviltante.
Ao longo das três semanas de votação, irregularidades e inconsistências ligadas ao projeto de venda foram sendo conhecidas pela opinião pública. Entre elas destacamos as seguintes:
- A avaliação feita por empresa terceirizada, do valor de CR$79.376.000,00 por 74 hectares em zona nobre da cidade, sendo que apenas os DOIS hectares do antigo Estádio dos Eucaliptos, estão avaliados em R$20.000.000,00 (semelhante ao caso da arena do Grêmio, em que uma área do Estado no valor de R$ 35.000.000,00, foi trocada por outra no valor de R$ 3.000.000,00). Tais fatos têm o condão de sugerir que estes negócios são manobras deslavadas em favor da especulação imobiliária;
- A empresa contratada não pertence ao setor imobiliário, da engenharia, da arquitetura ou agrimensura. Sua atividade fim está ligada a sinalização de aeroportos (?) e à alimentação (?). Sua contratação foi feita em 2006, sem licitação pública;
- Alardeada a venda como forma de patrocinar a “descentralização da FASE”, sobre o assunto propriamente dito, “descentralização”, não foi apresentada nenhuma linha. Circularam apenas as plantas para construção de uma nova unidade e a boa intenção (?) do governo em rever a situação pedagógica dos internos da FASE;
- Segundo alguns deputados estaduais, a descentralização poderia ser feita com recursos oriundos da venda de ações do BANRISUL, que rendeu aproximadamente R$ 1 bilhão de reais aos cofres públicos;
- O projeto de lei para a venda do Morro não ofereceu garantias quanto à proteção das matas nativas,vertentes e sítios históricos;
- Também, não apresentou garantias relativas à manutenção e regularização das moradias existentes no entorno da área a ser vendida.
Futuro
Afastada (temporariamente) a possibilidade da venda do terreno da FASE, com a retirada pelo governo do pedido de urgência para a votação do PL 388. Não deve a sociedade baixar a guarda. Mesmo diante das declarações públicas do governo que se sucederam, de desistência da venda e de interesse na criação de um parque público no terreno da FASE. Pois, como sabemos a moralidade e o cumprimento de promessas de campanha eleitoral não fazem parte do cotidiano de nossos políticos.
Também, deve-se insistir junto ao município, que este regularize os lotes de moradores que não ofereçam risco de morte aos moradores, que não estejam dentro de áreas valor histórico/paisagístico ou de proteção ambiental permanente. Bem como, se proceda mais rápido possível, o cadastramento de moradores para evitar o inchaço da população no entorno do futuro parque.
O Parque do Morro Santa Tereza pode ser considerado como a maior novidade em termos urbanísticos das últimas décadas para a cidade de Porto Alegre. Por isso, a sociedade deve emanter-se vigilante e deve exigir do governo que cumpra sua promessa de transformar efetivamente os 74 hectares da FASE, no Morro Santa Tereza, num belíssimo parque público.
No Brasil de hoje o “Interesse Público” definitivamente deixou nortear as ações de nossos governantes. Obcecados pelo lucro fácil e a sustentabilidade no poder, eles deixam de servir ao povo que os conduziu ao poder para atender os interesses das camadas mais abastadas da sociedade.
Em Porto Alegre, coisa não é diferente. Avessos às necessidades da sociedade o governo do estado e do município projetam obras faraônicas para a posteridade sem antes resolver os problemas da realidade. Usando dinheiro público e a copa do mundo de 2014 como desculpa as negociatas vem se sucedendo numa velocidade jamais vista.
Vejam-se alguns aspectos no caso da Arena do Grêmio:
1. A área negociada para construção do estádio havia sido doada de maneira formal ao Círculo Operário, há 50 anos atrás. Sem qualquer argumentação jurídica plausível esta doação foi ignorada;
2. De forma sintética o negócio se deu nos seguintes termos: O governo do Estado trocou a área para construção do Estádio, no bairro Humaitá, por outra situada na Estrada Costa Gama, zona sul da cidade, de propriedade dos empreendedores. A área do Humaitá foi avaliada em R$ 35 milhões de reais; já a área da zona sul em R$ 3 milhões de reais. Um desfalque no patrimônio público de R$ 32 milhões de reais feito na cara dura;
Campos de várzea serão engolidos pelo concreto
Foto - Eduíno Mattos
3. O projeto prejudica a mobilidade urbana. O entroncamento Free Way/Farrapos com BR 116, na entrada principal da cidade, atinge momentos críticos com paralisação total de fluxo nos horários de Pico. Em dias de jogos importantes, a circulação de 70 mil pessoas no bairro Humaitá causará um verdadeiro pandemônio na entrada ou saída da cidade.
4. Duas escolas e um CTG, além dos últimos campos de várzea estão sendo expulsos do local onde será construído o estádio;
Escola Santo Inácio será demolida e ainda não tem destinação definitiva
Foto - Eduíno Mattos
5. Para construção do estádio será concedida a isenção de impostos. Isenção implica em abrir mão de arrecadação de impostos. Imposto é dinheiro do povo. Este dinheiro vem do suor do trabalhador;
6. Existem outros aspectos ligados ao torcedor gremista, que antes tinha orgulho de assistir seu time na sua pró pria casa. E agora passará a torcer na casa de baianos. Pois, a construtora da arena será a única dona do estádio durante 20 anos. Esta empresa pertence à família do falecido Antonio Carlos Magalhães (Toninho Malvadeza), cuja saga dispensa qualquer comentário. Todos os sócios, inclusive os sócios patrimoniais, terão que pagar ingresso.
7. Prédios de até 72 metros projetados para as imediações do estádio, podem comprometer a segurança do tráfego do aeroporto Salgado Filho e vizinhança.
Imagem H. Wittler - Desenho Tânio J. Faillace
Cais Mauá - Centro - Porto Alegre
Porto sob a ameaça da especulação imobiliária predatória
O Cais Mauá, centro da capital gaúcha, também não está livre das atrocidades urbanísticas e negociatas. O projeto de revitalização do cais alardeado como a salvação do centro da cidade, tem como obras principais a construção de torres de 100 metros de altura próximas à rodoviária e a construção de um apart hotel e um shopping Center nas imediações da Usina do Gasômetro.
Com poucos investimentos o Cais pode se consolidar como um centro permanente de eventos
O objetivo neste caso é bastante explicito, o projeto tem por escopo a privatização da orla pública. O governo do estado quer entregar aos empresários o melhor ponto do centro da cidade. Pois, se quisesse realmente melhorar o centro da cidade pensaria em sanar os problemas do calçamento irregular, da segurança dos transeuntes, sobretaxaria os imóveis desocupados, promoveria incentivo à restauração dos prédios antigos, recuperaria as praças públicas e ofereceria tratamento humanitário aos moradores de rua.
" Não são prédios isolados no cais que devolverão a importância perdida e a dignidade ao centro da cidade."
Justino chaplin e um novo fã
Inconveniências do Projeto de Revitalização do Cais Mauá proposto pelo governo do estado:
1. O projeto causa impacto negativo na mobilidade urbana. A Avenida Mauá e Avenida Castelo Branco são vias notoriamente saturadas; qualquer projeto sem alternativas viárias causará estagnação completa do trânsito de veículos no centro da cidade. Estima-se que os dois projetos implicarão no aumento de 5.000 veículos a mais no centro da cidade;
2. Para construção do shopping e hotel um dos galpões será demolido. Logo, além da descaracterização do conjunto arquitetônico, haverá perda irreparável de patrimônio público histórico;
3. O projeto não contempla a situação dos prédios abandonados na Avenida Mauá. Local onde tranquilamente poderia se desenvolver a hotelaria e prédios voltados à prestação de serviços;
4. O projeto tenta privatizar patrimônio cultural brasileiro. Vejamos o que diz a nossa constituição:
“Art. 226. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem;
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
Sul e Norte em perfeita sintonia cultural
Para terminar o assunto do cais, citamos o exemplo da Feira Rural Brasil Contemporâneo. Esta feira comprovou que o Cais Mauá pode vir a se tornar um atrativo cultural para a cidade; sem qualquer obra faraônica, que implique em descaracterização do conjunto arquitetônico, poluição do visual ou privatização da orla pública.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Revirando um álbum de família, deparei-me com uma crônica poética escrita em 1958. Foi como se uma brisa fresca saísse daquelas páginas amareladas. Fui possuído por uma sensação nostálgica de algo que não tinha vivido. Naquelas singelas palavras um pouco de bucolismo, lirismo, paixão e a narrativa de um paraíso perdido. Neste idílio ainda encontrei uma definição para o Guaíba; uma definição daquelas que somente os poetas conseguem fazer.
“Hoje eu revi o Guarujá! Sim! Revi aquele Guarujá alegre e acolhedor; aquele Guarujá que rescende perfume por todos os lados; aquele Guarujá que em cada cantinho, esconde uma beleza e uma beldade...
Aquele Guarujá em cujo céu a cada nesguinha que nossos olhos divisam é por si só uma poesia... Aquele Guarujá, cujas praias alvas são o protótipo, se não o próprio retrato do criador. Aquele Guarujá, em cujas terras vive, sonha e medita a mais linda de todas as fadas.
Aquele Guarujá, em cujos jardins encantados encontrei certo dia essa linda fada banhando-se nos raios dourados do sol ou nas águas serenas desse rio, que não é rio nem lago... Mas, sim um mar encantado de águas doces. ”