O POVO EM AÇÃO & A PATÉTICA BANCADA PARLAMENTAR
Primeiro: posso atestar que o Pontal se constitui em sítio de beleza paisagística inquestionável. Pois, tive o privilégio de trabalhar por alguns meses naquele local, no ano de 1996, quando a artista plástica Tina Felice transferiu seu atelier para o Estaleiro. Os enormes galpões, sobras de maquinário e ferramentas gigantescas conferiam ao local um aspecto de sambaqui pós-moderno surreal, afinal trabalharam ali mais de 3000 operários ao mesmo tempo. E o “visú”? – Belezuratotal! Dali é possível assistir no fim de tarde ao espetáculo das luzes do centro se acendendo.
Pode-se, ao mesmo tempo, apreciar a silueta moderna dos prédios do centro administrativo, da catedral e da chaminé do gasômetro. Mas, o mais legal, são as passagens de embarcações, elas passam muito rentes à orla.
Os navios, que abastecem o pólo de Triunfo, por exemplo, podem ter até mais de 4 deques (plataformas)acima do convés.
O simples vislumbre destas naves em marcha, manobrando tão próximas, causa encantamento, já é por si só um atrativo turístico fantástico, que necessita poucos investimentos públicos para o deleite da população e visitantes.
Retornando ao assunto, quando tomei conhecimento que a primeira votação na câmara municipal do projeto do pontal,em setembro 2008, havia sido suspensa sob protestos e também por de uma liminar. Pensei: -Puts...Porque não estava lá? Daí, fiquei ligado. De formas, que ao saber pela imprensa da nova data, convoquei o Carbon, para participar da campanha. Discutimos sobre frases, compramos plástico e fizemos 3 faixas. Uma dizia que orla era do povo; outra era pelo desenvolvimento racional e a terceira falava que o Guaíba era nosso e citava o artigo 226, V, de nossa Constituição:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem;
V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
V- os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
O dia da votação, 12 de novembro, foi aguardado com ansiedade. Fazia um agradável dia primaveril. Cheguei na câmara por volta das 13:30min, havia um telão no pátio externo e representantes do sindicato da construção. Sabia que para ingressar no plenário seriam distribuídas senhas. Aos poucos os representantes de diversos grupos contra o projeto foram aparecendo. Fiquei mais aliviado.
Faltava o pessoal da UFRGS. A imprensa se fazia presente em massa. O ambiente estava por demais silencioso.
De repente, ao longe, ouvi gritos de uma passeata se aproximando. Era o DAFA, Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura, da UFRGS.
Tive a idéia de ir em direção ao séquito e me juntar a ele. Eles estavam muito bem organizados. Entreguei uma faixa pra eles e guardei as outras para o embate que se seguiria. Com eles além faixas e palavras de ordem, havia um providencial palhaço um menino ironicamente fantasiado espigão. Entramos no pátio da câmara fazendo muito alarido e sob os flashs e holofotes da imprensa. A batalha havia começado.
A guarda Municipal fez um cordão de isolamento (agora eles estão armados) em frente ao plenário e o circo pegou fogo. Houve quase um princípio de tumulto na distribuição de senhas, mas a boa educação e a Dona Democracia resolveram o assunto.
Então, começaram os discursos lá dentro, transmitidos simultaneamente pelo telão, lá fora. Cerca de duas horas, após minha chegada chegou o Carbon, vindo do trabalho. Passei-lhe as informações do estava acontecendo e nos juntamos aos protestos passando a exibir nossas faixas, fazendo revezamento de mensagens.
Apareceram para a luta contra o projeto o cartunista Santiago, a artista Zorávia Betiol, a escritora Tânia Failace, o companheiro Silvio XXX(grande Baluarte das lutas sociais da cidade), o pessoal da UAMPA, da Fundação Luttzemberger e a galera do DAFA, Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura, entre outros.
Sem dúvida nenhuma, a cada discurso dos edis defensores do projeto, ficava evidenciada a total falta elegância, ética, conhecimento e até competência de alguns destes parlamentares. Na ânsia de defender suas idéias especulativas, deixavam transparecer sua falta de tato para dirimir assuntos corriqueiros da administração de nossa cidade. Este lamentável espetáculo fazia com que a grandessíssima maioria de presentes ficasse pasma e injuriada por se sentir tão mal representada no parlamento municipal. Ocasionando cada pronunciamento, a favor do Pontal, uma chuva de vaias que ecoavam pelo plenário e em frente à câmara.
Sem dúvida nenhuma, a cada discurso dos edis defensores do projeto, ficava evidenciada a total falta elegância, ética, conhecimento e até competência de alguns destes parlamentares. Na ânsia de defender suas idéias especulativas, deixavam transparecer sua falta de tato para dirimir assuntos corriqueiros da administração de nossa cidade. Este lamentável espetáculo fazia com que a grandessíssima maioria de presentes ficasse pasma e injuriada por se sentir tão mal representada no parlamento municipal. Ocasionando cada pronunciamento, a favor do Pontal, uma chuva de vaias que ecoavam pelo plenário e em frente à câmara.
O clima era semelhante ao de um estádio de futebol, quando juiz deixa de marcar um pênalti indiscutível.
Teve vereador que para defender o projeto, apresentou foto do local mostrando lixo acumulado. Deu um tiro no próprio pé. Pois, limpeza e conservação é obrigação do proprietário. Além disso, fiscalização dos atos do executivo, é obrigação principal da vereança (Evidentemente sendo ele representante do povo e sabedor da sujeira, deveria acionar o órgão competente – DMLU, para as providências de estilo). Demonstrou ser negligente em seus deveres para com a cidade e ainda arranjou um requerimento, no ato, de multa para o dono do imóvel, a quem prestava serviços de defesa.
Outro nobre vereador, em acesso de fúria, chamou os manifestantes contrários ao projeto de “escória da cidade”. Para quem não sabe, escória significa gentalha, plebe, ralé. Faltando com o decoro ao agredir verbalmente os presentes com o uso de chulismo. Isto é, utilizou como argumento expressão baixo calão. Verdadeiro caboclo querendo ser inglês. Espero que este fato esteja devidamente registrado nos anais da casa. Pois, o nobre edil não só cometeu uma ofensiva grosseria, como atentou contra a democracia maculando um de seus fundamentos basilares, isto é, a livre manifestação do pensamento. Deve no mínimo uma retratação ou punição de seus pares.
Um vereador narradorzinho de futebol ameaçava constantemente processar manifestantes em delirantes surtos coléricos e espumantes, que eram transmitidos ao vivo pela TV câmara. Graças a isso recebeu uma metafórica chuva de moedas. Note-se, que no futebol a emoção exacerbada até é cabível, mas no trato de interesses públicos, pela seriedade que se exige é notoriamente descabido o fricote ou frescoletagem, como queiram. Ainda bem, para esse infeliz, que não se exige laudo psicológico para o exercício de cargo parlamentar. Nas palavras de Miguel Reale Júnior, o verdadeiro homem inteligente possui um forte e marcante traço de humildade em sua personalidade. Por este critério nosso narradorzinho, tranquilamente seria um dos últimos colocados na fila das pessoas inteligentes. Afinal, oportunismo não é sinônimo de inteligência.
Todos nós, os contra ao projeto, nos esforçávamos. Mas, a cada votação de destaque, emenda, ou requerimento para adiar votação, nossa pretensões eram derrotas. Então fazíamos mais e mais barulho dentro e fora plenário. Os vereadores sentiam a pressão e discutiam entre si. Perdiam a compostura aponto de se digladiarem entre si em frente aos presentes e as câmeras. Denúncias de compra de votos circulam em abundância pelos corredores, além daquelas que vazaram na imprensa. O caldeirão fervia pleno vapor.
Então, houve racha no nosso lado, sabedores que projeto não seria aprovado, alguns do contra queriam esvaziar o platéia para não legitimar a votação. Outros queriam ficar naufragar honrosamente sem abandonar o navio. Um debate se instalou entre as lideranças. Mesmos cansados, pois já passava da 21:00hs, a proposta de sair foi vitoriosa, nos levantamos e fizemos o máximo de barulho que podíamos conseguir, tanto que os vereadores ficaram um pouco assustados, pensando que iríamos invadir o plenário seguranças ficaram apostos. O griteiro era assustador, fomos para o saguão de entrada e ficamos pulando, gritando e cantando por mais de dez minutos, foram entoadas palavras de ordem e finalizamos com o Hino Riograndense.
Eu e Carbon Kid apostávamos na tradição do movimento estudantil na UFRGS e não nos desapontamos, o pessoal do DAFA, neste dia da votação deu show de competência e organização, fazendo rodízio de pessoas no plenário, servindo lanche aos presentes e levando até lá fora notícias das movimentações votações. Não posso esquecer de dizer, que o Sanduba deles tava muito bom. Encontrei fotos deles no clic RBS nas fotos da sessão neste Link:
http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Geral&newsID=a2291716.xml
Muito nos valeu os aguerridos momentos. Pois, reforçamos mais o gosto pela defesa do direito de cidadania contra a vilania. - Puxa até rimou... Carbon Kid, até apareceu nas reportagens da RBS, no final da sessão, gritando : PAAANTA! (de sacripanta). O link no site deles para esta reportagem se perdeu. Fiz um pedido. Se vier, poremos à disposição dos leitores, para ver Kid em plena ação. Obs.: A parte 03 versará sobre o protesto de FQ e CK no encerramento da feira do livro.