Quem compareceu à reunião viu o flagrante constrangimento do
executivo e seus técnicos ao tentar defender o indefensável. Os técnicos amenizaram
o sacrifício das árvores evitando usar a palavra “corte”, substituindo-a por
“supressão”. Segundo eles o projeto
executivo de duplicação está fase de finalização e simplesmente serão “suprimidas”
115 das 312 anteriormente previstas (devido às informações oficialescas os
números podem variar pouco).
Os representantes do executivo municipal presentes
alardeavam que a comunidade havia sido consultada. Tal afirmação foi entendida
pelos presentes como uma suprema ironia, pois das 18 entidades presentes (moradores
/ambientalistas) nenhuma havia sido consultada sobre a obra e ou informada
sobre as tais melhorias (?). Nem tão pouco foi visto na imprensa
porto-alegrense qualquer nota sobre os estragos na paisagem e ambiente
propiciados pelas obras. Como de sempre todo o projeto foi concebido com as
portas dos gabinetes fechadas. O corte aparentemente inusitado surpreendeu até
a Comissão de Saúde e Meio Ambiente do Legislativo Municipal que rapidamente marcou
uma reunião com a comunidade e secretarias para dar um fim aos protestos e
sentimento de revolta que espraiou pela cidade.
Numa rápida síntese podemos afirmar que o discurso dos
técnicos e prefeitura foi de baixo convencimento, composto de falácias de
sustentação frágil e inconsistente. A começar pela farsa do diálogo permanente
com a população anunciado pelo prefeito no seu cartão de boas festas, publicado
nas redes sociais. Neste caso o diálogo foi zero.
Vamos discorrer sobre algumas das sandices proferidas pelos
representantes do prefeito na reunião:
1. A
obra é importante para mobilidade do centro da cidade. Por isso o sacrifício
das árvores é inevitável...
Aqui a má-fé é flagrante por que as ruas do
centro histórico estão infartadas de carros e nem mesmo as caríssimas garagens dão
conta do grande movimento. É óbvio que
levar mais automóveis até o centro não vai melhorar a circulação de veículos da
cidade. Em países com um pouco mais de decência, estão sendo criados obstáculos
para o motorista egoísta com a cobrança de pedágio, rodízio e recolhimento
imediato de veículos de infratores. Em contra partida é oferecido transporte
público de qualidade com a cobrança de tarifas realmente sociais.
2. Com a obra serão retiradas curvas que
diminuem a velocidade dos carros...
Esta afirmação denota uma dose elevada de
crueldade e desconhecimento proposital da comunidade que cerca o Gasômetro. Os
moradores do centro tem verdadeira paixão por aquele pequeno pedaço da cidade,
que é sua área de lazer. Estabelecem uma relação de convivência intensa com o
espaço físico. A movimentação diária de transeuntes é altíssima. A crueldade repousa no fato de que crianças,
idosos, cadeirantes e portadores de necessidades especiais atualmente enfrentam
altos riscos ao atravessar a Avenida João Goulart pela falta acessibilidade
adequada, fiscalização e infrações dos motoristas. Com a nova “free way” em
pleno centro da cidade haverá o tal aumento de velocidade dos carros, por
conseguinte os índices de periculosidade serão ainda maiores para estes
segmentos da nossa comunidade.
3. Cortar árvores para diminuir os
engarrafamentos e poluição do ar...
Esta afirmação é absolutamente risível, pois
naquele ponto viário o trânsito possui boa fluência. Os eventuais
congestionamentos ocorrem apenas no “rush” / horário de pique, protagonizado
pelo alto fluxo de pessoas que acionam os semáforos para atravessar a rua e
usufruir dos benefícios do Gasômetro e orla. O que vale dizer, que a simples
instalação de uma passarela (com acesso adequado a portadores de necessidades
especiais) o caso estaria solucionado, e sem motosserra.
Já no quesito poluição, a
retirada das árvores já está prejudicando o centro, na medida em que vegetais
da daquele porte absorvem partes dos gases expelidos pelos automóveis e fazem a
contenção natural de partículas sólidas, evitando que as mesmas cheguem aos
lares e escritórios do centro.
Outra... Carros parados expelem
mais gases. Sim... Mas, o aumento de tráfego também!
4. O escárnio e desculpas esfarrapadas ou “A
população não utiliza estas árvores”...
A infeliz declaração do Prefeito José
Fortunati, além de irônica expressou o despreparo e ou desconhecimento
intencional da realidade do lugar. No item anterior esclarecemos sobre os
benefícios ambientais de vegetais de grande porte, informações notórias até
para portadores de poucas luzes culturais.
Relativo ao desconhecimento intencional da
realidade local, também é de conhecimento do porto-alegrense que as pessoas
utilizam as árvores sobreviventes e utilizavam efetivamente as tombadas. Tanto
que muitos choraram ao ver a instalação do caos na praça. Sob a sombra das
árvores tombadas pessoas namoravam, havia piqueniques, crianças brincavam,
passeavam com seus animalzinhos; outros meditavam, estudavam e os pássaros,
antes do aumento de tráfego de automóveis, alegravam os moradores saudando o amanhecer
com seus maviosos trinados.
5. O secretário do Meio Ambiente – Luiz
Fernando Záchia..
A escolha da equipe de um chefe de governo revela traços da personalidade
de seu chefe, pois é feita a partir da relação de afinidade existente entre o
comandante e seus comandados.
Pesa sobre o nome Luiz Fernando Záchia uma investigação do Tribunal de
Contas do Estado, ano de 2008, sobre possível enriquecimento ilícito devido a
compra de imóveis incompatíveis com seus rendimentos ( As propriedades adquiridas, juntas, valeriam entre R$
1,4 milhão e R$ 1,6 milhão, o triplo dos bens que Záchia declarou à Justiça
Eleitoral antes de concorrer à reeleição, em 2006 patrimônio de R$ 438 mil).
Coincidentemente, nas gravações da Operação “Rodin” da Polícia Federal,
que apurou fraudes do DETRAN/RS no governo Ieda, o ex-chefe da Casa Civil, Luiz
Fernando Záchia, é citado pelo codinome de “Garotinho da Praça da Matriz”. Sendo
que o conteúdo revela um suposto mensalão de 70 mil reais que ele receberia
para não denunciar o esquema.
Todas estas notícias circularam pela imprensa local e nacional. Logo, são
de domínio público. Se um chefe de governo compõe seu governo com membros de
reputação no mínimo duvidosa, contamina sua gestão com os ares da suspeição. Deixemos
as conclusões para os leitores.
Para falar sobre o secretário Záchia, Lívia Zimmermann, filha da saudosa Hilda
Zimmermann, abriu seu pronunciamento exclamando: - Administrar é colocar a
pessoas certas no local correto! Em seguida lembrou que a mãe ao saber da
nomeação de Záchia, no alto de sua sabedoria perguntou: Mas, essa cara não é do
Futebol? (Hilda Zimmermann é uma das fundadoras da AGAPAN, entidade
mundialmente pioneira na defesa do meio-ambiente, mais antiga até que o
Greenpeace).
Hilda Zimmermannn |
Lívia expressou seu descontentamento com a gestão do Záchia. Sendo de
consenso por parte de 99% dos presentes que o secretário é pior agente público
da pasta do meio ambiente que a cidade já viu. Escolhido por Fortunati pela sua
ligação com futebol, ele tem apoiado sistematicamente a destruição de áreas
verdes da cidade pela especulação imobiliária predatória e mais, põe sua equipe
de trabalho para referendar projetos destrutivos para o ambiente natural
realizados em nome da copa 2014. Logo, foi aclamado pelos presentes como assassino
de árvores, que também pediram sua renúncia.
A defesa do interesse público é a obrigação primordial do governante, o
desvio desta função fica evidente, quando o agente que deveria zelar pelo meio
ambiente pratica atos no sentido contrário. Note-se pelas contrapartidas que a
secretaria utilizou para diminuição do impacto das grandes obras: a secretaria
já trocou por conta da destruição do meio ambiente motosserras, gasolina e veículos.
Ainda, a prefeitura possuiu quadro de técnicos qualificados, que vivem sobre a
imperiosidade de chefes políticos, no caso da pasta meio ambiente está servindo
como um anexo da secretaria de obras.
6. O que diz a lei...
A Resolução CONAMA Nº
001, de 23 de janeiro de 1986:
Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação,
em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do
Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais:
I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização
de projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto;
II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais
gerados nas fases de implantação e operação da atividade;
Aplicando a lei no caso do
corte das nossas árvores, se quer foram apresentadas alternativas tecnológicas,
não houve a tal confrontação para saber se era ou não exequível. Prevaleceu a
lei da motosserra. Também não houve a audiência pública, como preconiza a lei.
O delegado do orçamento participativo, por exemplo, não foi consultado, muito
menos os membros Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano.
7. José Foturnati havia aprovado o Parque do
Gasômetro...
Em 2007, quando era Secretário do Planejamento,
Fortunati recebeu uma comissão que reivindicava melhorias e Um Parque para o
Gasômetro. Demonstrou interesses a ponto de dizer que iria realizar estudos. No
ano de 2009, durante a realização da Revisão do Plano Diretor de Porto Alegre,
a proposta do parque encaminhada pelo Vereador Comassetto do parque foi
apresentada e aprovada. Logo, o distinto prefeito tinha conhecimento do assunto
e sua Free Way no centro da cidade é ilegal, pois é contrária a lei máxima que
rege o uso do solo urbano da cidade. O próprio prefeito forneceu combustível
para os advogados ambientalistas e transforma o corte de árvores numa atitude
verdadeiramente criminosa.
8. Ambientalistas...
Por derradeiro, é bom que fique claro que
ambientalistas não são um grupo de meia dúzia de histéricos revoltados pelo
corte de um simples matinho. São pessoas que se preocupam primeiro com a
qualidade de vida das pessoas para depois se preocupar com fluxo de carros. Até
por que são emplacados cerca de 400 automóveis novos por dia na cidade, nossas
ruas são estreitas, as calçadas estão diminuindo para dar passagem ao ego dos
motoristas, tão grande quanto o efeito danoso que causam ao meio ambiente.
Não há onde colocar mais carros no centro,
aumentar a velocidade da pista trará problemas de segurança para moradores,
turistas e portadores de necessidades especiais numa zona de grande fluxo de
pedestres.
O sacrifício de árvores frondosas e “Uteis”
foi em vão, esperamos que parem de “ (in) Fortunatizar” nossas árvores!
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